“O plano de vacinação define que uma vacina é dada aos dois meses, outra aos três, aos quatro e por aí a fora e não tem que ser num dia específico. O problema é que se houver uma marcação prévia de vacinação, a família organiza-se para levar a criança ao centro de saúde para receber a vacina e chega lá e dizem que não há vacina. É possível que algumas dessas crianças depois não voltem a uma nova marcação”, explicou o pediatra.
Por isso, sustentou, “não ter ‘stocks’ disponíveis numa situação que é perfeitamente previsível cria algum risco de perda de oportunidades de vacinação, mais do que propriamente o facto de a criança não receber a vacina naquele dia específico, porque não é assim que a imunidade funciona”.
Segundo o Expresso, a vacinação gratuita, sobretudo de recém-nascidos e crianças, está a ser feita a ‘conta-gotas’, adiantando que durante este ano ainda não foram compradas as vacinas necessárias e os centros de saúde estão a utilizar doses que sobraram do abastecimento anterior, sucedendo-se os relatos de falhas na imunização por todo o país.
Entretanto, foi hoje autorizada pelo Governo uma despesa de cerca de 46,2 milhões de euros para aquisição de vacinas e tuberculinas, no âmbito do Programa Nacional de Vacinação durante o ano de 2023.
Segundo uma resolução do Conselho de Ministros publicada em Diário da República, as cinco Administrações Regionais de Saúde (Lisboa e Vale do Tejo, Norte, Centro, Algarve e Alentejo), e entidades da respetiva abrangência já podem proceder à aquisição de vacinas e tuberculinas no âmbito do Programa Nacional de Vacinação 2023, no valor total de 46.245.572,23 euros a que acresce o imposto sobre o valor acrescentado à taxa legal em vigor.
Jorge Amil Dias disse “achar estranhíssimo” este atraso, uma vez que as vacinas são algo que é previsível em termos de consumo. “Sabemos quantas crianças nascem e, portanto, é fácil para quem planeia as necessidades saber exatamente quantas vacinas vão ser precisas e onde”.
“Por se qualquer motivo houvesse um problema de abastecimento ou de fabrico seria lamentável, mas compreensível, mas neste caso o que parece é que “por algum bloqueio burocrático”, não foram adquiridas em tempo útil as vacinas necessárias.
Para o pediatra, esta situação contrasta com a que foi vivida nos últimos anos de pandemia, em que para a vacina contra a covi-19 “nunca houve falta de recursos”.
O presidente do Colégio de Pediatria disse não ter dúvidas de que o Ministério da Saúde e a administração pública iam libertar as verbas e resolver a situação, mas o que considerou estranho é que “o problema tenha surgido”.
“Não é algo que tenha surgido de forma imprevista. Já se sabia há três meses ou seis meses ou há um ano que vacinas é que o país precisaria de ter e, portanto, da mesma maneira que nós não deixamos acabar determinados recursos domésticos, como quando há pouco papel higiénico, pouco arroz, nós abastecemos também aqui”, rematou Jorge Amil Dias.
LUSA/HN
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