O fármaco, chamado donanemab, está a ser desenvolvido pela farmacêutica Eli Lilly, que já solicitou a aprovação por parte da agência federal norte-americana para os medicamentos (FDA, na sigla em inglês).
Em maio, a Lilly já tinha anunciado que o donanemab parecia funcionar, mas os resultados finais de um ensaio clínico que envolveu 1.700 doentes só ontem foram publicados pela revista científica Journal of the American Medical Association e apresentados numa conferência da Associação Internacional de Alzheimer em Amesterdão.
À semelhança do fármaco Leqembi, produzido pela farmacêutica japonesa Eisai e recentemente aprovado, o donanemab é composto por anticorpos produzidos em laboratório, administrados por vi intravenosa e que têm como alvo um dos principais responsáveis pela doença de Alzheimer – os aglomerados de proteínas conhecidas como placas amiloides.
Os dois fármacos têm também uma contraindicação séria: a possibilidade de inchaço ou hemorragia cerebral que no estudo da Lily foi associada a três mortes, sendo que cerca de um quarto dos doentes apresentaram sinais de inchaço e 20% tiveram microhemorragias.
Apesar de reconhecerem que estes medicamentos representam uma nova era no tratamento de Alzheimer, os cientistas admitem haver ainda muitas questões sobre o perfil dos pacientes em que devem ser testados e o nível do benefício.
“Provavelmente, os benefícios modestos não seriam questionados por pacientes ou médicos se os anticorpos fossem de baixo risco, baratos e simples de administrar, mas não são nada disso”, escreve o médico Eric Widera, da Universidade da Califórnia, em San Francisco, no editorial do Journal of the American Medical Association.
O estudo envolveu pessoas entre os 60 e 85 anos, que estavam ainda numa fase precoce da doença. Os 1.700 doentes foram divididos em dois grupos, em que metade recebeu infusões mensais do donanemab e a outra metade infusões placebo, ao longo de 18 meses.
Além das placas amiloides, os investigadores monitorizaram os níveis da proteína tau, também responsável pela Alzheimer.
De acordo com os resultados, os dois grupos pioraram ao longo dos 18 meses, mas a evolução foi cerca de 22% mais lenta naqueles que receberam donanemab, sendo que o medicamento parece funcionar melhor nos estágios iniciais da doença, uma vez que os doentes com níveis baixos a médios de tau tiveram um declínio 35% mais lento.
Significa que o donanemab atrasou entre quatro a sete meses o declínio do estado de saúde dos doentes. Entre os doentes a quem foi administrado o medicamento, 47% foram considerados estáveis um ano após o inicio do estudo, comparado com os 29% do outro grupo.
Se aprovado, será o segundo tratamento para a doença de Alzheimer comprovadamente capaz de retardar os sintomas da doença neurodegenerativa, depois de a FDA ter autorizado, no início do mês, a utilização do Leqembi.
LUSA/HN
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