Virgínia Pereira; Enf.ª Especialista em Enfermagem de Reabilitação; Enf.ª Gestora; Associação Portuguesa dos Enfermeiros de Reabilitação

A perspetiva da Enfermagem de Reabilitação perante o envelhecimento e as doenças crónicas

07/29/2023

A longevidade do ser humano e as doenças crónicas são fenómenos que, para além de se interligarem, têm relevância em todo o mundo.

Os avanços tecnológicos, científicos, médicos e de saúde pública assim como melhores condições de vida a nível global são facilitadores disso mesmo.

No entanto, à medida que envelhecemos o nosso organismo tende a um desgaste natural tornando-se menos eficiente na sua capacidade de regeneração e por isso mais suscetível a doenças e/ou a recuperar delas. Por outro lado, estilos de vida menos saudáveis como dieta inadequada, sedentarismo e consumo de substâncias nocivas são fatores de risco para o desenvolvimento de doenças crónicas, como são as doenças cardiovasculares, respiratórias, neuro-degenerativas e a diabetes.

O aumento do envelhecimento e das doenças crónicas estão diretamente relacionados com a necessidade de cuidados sociais e de saúde levando a uma sobrecarga dos recursos existentes a nível familiar assim como de todos os sistemas socioeconómicos e de saúde de um país. A continuidade e diferenciação de cuidados que vai sendo necessária pode impactar a qualidade de vida destas pessoas e das suas famílias.

Todos sabemos que ter uma atitude preventiva de saúde e manter um estilo de vida saudável ajuda a retardar o aparecimento de doenças crónicas, no entanto, quando estas se instalam, só nos resta adequar os cuidados mais eficazes para enfrentar os desafios impostos pela doença na sociedade em que estamos inseridos.

Os Enfermeiros Especialistas em Enfermagem de Reabilitação (EEER) têm um papel deveras importante no cuidado das pessoas envelhecidas, com doença crónica, ajudando-as na manutenção da sua funcionalidade, do seu autocuidado e da sua qualidade de vida.

Enquanto Enfermeiros Especialistas, com um corpo de conhecimentos científicos e habilidades específicas, temos um papel crucial na avaliação das necessidades das pessoas, no planeamento de cuidados individualizados e na implementação de intervenções terapêuticas, objetivando a manutenção ou recuperação das suas funções, ensinando técnicas e estratégias para promoção da independência nas atividades de vida diárias.

O trabalho em equipa interdisciplinar que os EEER desenvolvem, independentemente do contexto de trabalho, é crucial para atingir os objetivos delineados com a pessoa e a sua família. O papel de gestor de cuidados está frequentemente implícito nas funções destes profissionais e o plano de cuidados definidos para cada situação específica pode ser muito amplo e incluir não só a pessoa como o seu agregado familiar.

Neste sentido, os EEER têm de estar atentos aos desafios que estes fenómenos incorporam e serem empreendedores por forma a dar a melhor e mais atempada resposta às necessidades destas pessoas e da própria sociedade, tais como: uma maior procura de cuidados e com maior complexidade, exigindo mais trabalho e melhor gestão de tempo; abordagem holística e integrada dos cuidados à pessoa; utilização de abordagens terapêuticas e técnicas para minimizar o desconforto e a dor muitas vezes associados aos múltiplos condicionantes do próprio envelhecimento; promoção da autonomia das pessoas, auxiliando-as na recuperação de habilidades perdidas, adaptando o ambiente para garantir a segurança e fornecendo suporte emocional para lidar com as mudanças de vida; abordagem centrada na pessoa, envolvendo-a ativamente no plano de cuidados e nos objetivos a atingir, de forma realista; trabalhar em equipa e educar e promover a saúde da pessoa idosa e da sua família fornecendo informações sobre prevenção de lesões, orientando para o autocuidado e aconselhando sobre estilos de vida saudável, de forma a melhorar a qualidade de vida e evitar complicações de saúde.

Os Enfermeiros Especialistas prestam cuidados sensíveis a ganhos em saúde e indicadores de qualidade que são essenciais para promover resultados positivos e melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Neste sentido, os EEER reúnem condições para que possam assumir a contratualização dos cuidados que são capazes e competentes de prestar, quer a nível dos serviços quer das instituições onde trabalham. Para que tal possa acontecer têm de se sistematizar a criação de objetivos a serem considerados em cada plano de cuidados e que devem ser específicos, mensuráveis, atingíveis, relevantes e baseadas no tempo (critérios SMART), permitindo a monitorização e a avaliação do progresso alcançado.

A monitorização contínua do processo de reabilitação permite não só avaliar a eficácia das intervenções e realizar ajustes quando necessário assim como monitorizar indicadores de produtividade e de qualidade.

Por outro lado, o EEER na sua intervenção educativa contribui para o aumento da literacia em saúde e promoção do envolvimento da pessoa / família de forma ativa no processo de tomada de decisão e autonomia. Nesta perspetiva, também é crucial uma avaliação por parte da pessoa/ família quanto à perceção sobre a qualidade dos cuidados recebidos, sendo um indicador importante de eficácia e qualidade que permite identificar áreas de melhoria e ajustar as práticas de cuidados de Enfermagem de Reabilitação.

Atendendo a todos estes aspetos, considero que os EEER promovem ganhos em saúde significativos e são promotores de indicadores de qualidade que refletem a recuperação funcional e o bem-estar das pessoas. Daí afirmar convictamente que o Serviço Nacional de Saúde deva incrementar a integração obrigatória dos EEER nas diferentes unidades e tipologias de cuidados por forma a garantir a prevenção/ manutenção e/ou recuperação da pessoa e evitar complicações e escalada de cuidados que muitas vezes poderiam ser evitadas. Parte superior do formulário

 

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