Teresa Pereira: “As coagulopatias podem passar de forma despercebida ao longo da vida”

08/14/2023
Milhares de portuguesas sofrem de distúrbios da coagulação e não sabem. O alerta é feito por Teresa Pereira, membro do Comité de Mulheres, que sublinha a importância do diagnóstico atempado para acautelar possíveis complicações. Em nome da Associação Portuguesa de Hemofilia, Teresa Pereira chama a atenção para os principais sinais e sintomas das coagulopatias na mulher. Estima-se que 5% das mulheres com cerca de 30 anos consultem o seu médico assistente por menstruação abundante.

HealthNews (HN)- O que são as coagulopatias na mulher?

Teresa Pereira (TP)- São problemas a nível da coagulação do sangue. Nalguns casos estes distúrbios podem surgir nas mulheres por coagular de mais ou por coagular de menos. Infelizmente, as coagulopatias podem passar de forma despercebida ao longo da vida. Muitas mulheres, durante o período menstrual, associam os sangramentos abundantes a algo normal, desvalorizando alguns sintomas que podem surgir na menstruação. Portanto, a nossa missão é alertar para estes problemas. Muitas vezes falamos de doenças como a hemofilia e associamos aos homens, mas há muitas outras patologias da coagulação do sangue que afetam também as mulheres.

HN- O que se sabe sobre a origem das coagulopatias?

TP- As coagulopatias surgem muitas vezes de forma hereditária.

HN- Quais os sinais de alerta e em que altura deve ser procurada ajuda médica?

TP- Existem vários sintomas que ajudam a identificar as coagulopatias. Os dez principais sinais a que a mulher deve estar atenta são: período menstrual prolongado (superior a sete dias); hemorragia abundante na sequência de cirurgia ou parto; hemorragia abundante após intervenção dentária; hemorragia nasal recorrente e duradoura; hemorragia abundante após traumatismo; nódoas negras frequentes ou de grandes dimensões; histórico familiar; anemia; necessidade de transfusão de sangue e APTT prolongado (análise sanguínea).

Se a pessoa achar que tem três dos dez sinais mencionados, nesse caso é aconselhado consultar o médico de família.

HN- Apesar de não haver um Dia Mundial, por que razão é urgente falar de Coagulopatias na Mulher?

TP- Não existe realmente um dia das Coagulopatias na Mulher, mas como eu dizia há pouco é muito importante falar sobre estes distúrbios, já que podem passar de forma despercebida. Quando as mulheres sabem da existência desta condição conseguem estar mais prevenidas e tomar decisões atempadamente. Por exemplo, se for fazer uma extração dentária é importante alertar o estomatologista para a coagulopatia, de maneira a evitar hemorragias excessivas.

HN- Qual o impacto na saúde e qualidade de vida das mulheres?

TP- Quando as coagulopatias são graves o impacto é muito forte. De qualquer forma, estes casos são, normalmente, acompanhados desde cedo nos centros hospitalares. No que toca às mulheres que não sabem que têm coagulopatias é que devem ter mais atenção.

HN- O que pode ser feito para prevenir as coagulopatias?

TP- Prevenir as coagulopatias é impossível. Por isso mesmo é que não há nada melhor que saber da existência para poder tratar.

Entrevista de Vaishaly Camões

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