“Nós sabemos que uma das reformas importantes que temos que fazer é integrar melhor os cuidados de saúde no nosso sistema e a criação de ULS pode promover essa integração de cuidados”, afirmou o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH).
É um ponto de partida, mas não garante por si só a integração, ressalvou Xavier Barreto. “A integração teremos de ser nós a fazê-la, em diálogo permanente entre os diferentes níveis de cuidados e entre as diferentes equipas. E portanto, as ULS são um ponto de partida, criam condições para melhorar a integração de cuidados; mas se não fizermos mais nada, naturalmente que não se vai gerar espontaneamente. Teremos de trabalhar em conjunto com os profissionais de saúde, com as equipas dos diferentes níveis, para que esse objetivo seja alcançado. Cá estaremos todos para o fazer. Será esse o nosso trabalho nos próximos meses, certamente”, explicou.
Ou seja, centros de saúde e hospitais geridos de forma conjunta, tendo um só conselho de administração, não é suficiente. “Se não fizermos mais nada, os resultados vão ser exatamente os mesmos.”
“Cabe-nos agora a nós definirmos o percurso dos nossos doentes, articularmos respostas, partilharmos informação clínica, fazermos integração clínica – que é o mais importante quando falamos em integração de cuidados. O tema mais relevante quando falamos de ULS é integração clínica. É isso que vamos ter de fazer. E isso demora tempo, não se faz em poucos meses”, acrescentou.
Para Xavier Barreto, “não podemos esperar resultados diferentes se internamente não mudarmos a forma como diagnosticamos, como tratamos, como acompanhamos os nossos doentes”. “Implica redefinir o circuito dos nossos doentes em muitos casos”, e as ULS “criam as condições para mudarmos a forma como nos organizamos”.
A questão do financiamento “é muito importante”. “Qual é a diferença entre as ULS e os outros hospitais? Os outros hospitais recebem pela produção que fazem, essencialmente – consultas, cirurgias, etc. –, e as ULS recebem por capitação – recebem à cabeça um valor por cada pessoa da área de influência que vão servir. (…) Isto cria incentivos diferentes”, explicou o presidente da APAH.
Nas ULS, por exemplo, e de acordo com a literatura, há maior incentivo à prevenção. Por outro lado, ainda nas ULS, “quando um doente pelo qual nós já recebemos vai a outro hospital que não o nosso, nós temos que pagar a esse hospital os cuidados que lhe foram prestados”. “Isso estava previsto desde o início, mas nunca funcionou. (…) Nós saudamos que se tente agora recuperar essa ideia, porque é uma ideia que faz sentido, e obviamente esperamos que isso funcione”, disse Xavier Barreto.
A proposta de o financiamento seguir o doente é uma “ideia bondosa” que já se tentou implementar, “mas não funcionou”. Apesar disso, Xavier Barreto continua a defendê-la: “Nós reunimos um grupo de peritos em março para refletir sobre isto e apresentámos as conclusões em abril, numa sessão no IPO do Porto, e a nossa proposta de financiamento ia muito nesse sentido. Acrescentava outros detalhes, por exemplo valorizar mais o valor em saúde, os resultados que nós obtemos para os nossos doentes, os resultados clínicos; majorar o financiamento dos hospitais que trabalharem melhor e que tiverem melhores resultados. Não sabemos ainda se isso está ou não previsto neste modelo de financiamento, mas sabemos que aquilo que foi noticiado hoje, esta ideia de o financiamento seguir o doente, estava previsto no nosso documento de reflexão. Portanto, saudamos essa proposta.”
HN/RA
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