“É a primeira vez que junto todas as pessoas que no país fazem a melhor arte a tratar estes doentes, doentes que têm feridas crónicas no pé, com diabetes”, disse ao HealthNews o presidente da comissão organizadora. Foi desenvolvido um programa científico “aliciante”, “pondo cada consulta a falar sobre um tema” que depois se discute em conjunto. “Acho que vai ser muito bom e tem tudo para correr bem. Nós somos uma família pequena, mas mesmo assim conhecemo-nos pouco. É a oportunidade de estarmos todos juntos e de nos conhecermos melhor.”
Questionado sobre os temas em destaque, Rui Carvalho decidiu salientar a multidisciplinaridade – o último tema, nas mãos do Centro Hospitalar de Tâmega e Sousa. “Tudo no mesmo lugar ao mesmo tempo” é o nome da apresentação de Maria Jesus Dantas. “É isso que todos devem fazer. Ou seja, o pé diabético é uma situação clínica complexa, que exige a presença de vários profissionais, de diferentes áreas, ao mesmo tempo, no mesmo local – e isso é a chave do sucesso. Eu, na assistência, tenho vários profissionais, tenho enfermeiros, podologistas, cirurgiões vasculares, ortopedistas, cirurgiões gerais, Medicina Interna, Endocrinologia. Todos são necessários, cada um a dar a sua opinião, para tratar esta situação. Daí que talvez ponha ênfase na multidisciplinaridade. É isso que faz a diferença no tratamento desta situação clínica”, esclareceu Rui Carvalho.
“O facto de todos estarem presentes já é missão cumprida”, gracejou o especialista. “De facto, acho que a adesão foi muito importante. Tenho lá as principais consultas do país. Só isso é já importante. Que saiam de lá com um espírito de união, motivação e levarem para casa melhores tratamentos, acho que isso será o mais importante.”
O responsável pela consulta do Santo António falou ainda da intervenção do seu hospital no debate que se aproxima: “Nós, o Santo António, vamos levar dois temas. Um é o tratamento com gel plaquetário, ou seja, com fatores de crescimento derivados do plasma dos dadores de sangue. Era algo que ia para o lixo, e nós, ao aproveitarmos o plasma dos dadores de sangue do Hospital de Santo António, conseguimos fechar 40% de úlceras refratárias. Vou tentar passar essa mensagem para os outros hospitais do país. Por outro lado, também fazemos arterialização venosa. Só há um cirurgião vascular no país que faz isso, o Dr. Luís Loureiro, que está na minha equipa. São coisas que podem fazer a diferença noutros hospitais.”
No pé diabético, a referenciação, muitas vezes, “é muito tardia”. “Eu preferia que estes doentes fossem referenciados para consultas específicas o mais depressa possível, numa fase inicial, porque quando pegamos neles, pegamos numa situação já muito tarde, com uma ferida muito infetada, muito desenvolvida, já a necessitar de grandes intervenções cirúrgicas e, muito provavelmente, a necessitar de amputações. Eles deviam vir muito antes disso”, alertou o médico.
“Esta é uma mensagem que temos de passar para a comunidade médica em geral, para a comunidade de enfermagem, dos profissionais de saúde que veem estes doentes nos centros de saúde ou nas urgências do país.” Nas urgências, estes doentes “são muitas vezes tratados indiferenciadamente, numa terra de ninguém; muitas vezes mal orientados em termos do seu tratamento. De facto, esses profissionais, cirurgiões gerais, médicos de Medicina Interna, endocrinologistas desses hospitais, terão de ter um conhecimento de como orientar e tratar esta patologia”, concluiu Rui Carvalho.
O encontro termina com um almoço na Quinta do Ribeiro Santo.
HN/RA
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