Stresse e ansiedade aumentam risco de doença cardíaca coronária e AVC

10 de Outubro 2023

Pessoas com depressão apresentam até 36% maior risco de doença cardíaca coronária, enquanto a depressão, o stresse e a insatisfação podem aumentar em 39% o risco de AVC, revela um estudo da Ordem dos Psicólogos (OPP) divulgado esta terça-feira.

Com o estudo “Contributo Científico OPP – O Impacto da Saúde Mental na Saúde Física”, hoje divulgado a propósito do Dia Mundial da Saúde Mental, a OPP quer apelar à reflexão sobre os problemas de saúde mental que originam doenças físicas.

Em declarações à agência Lusa, a vice-presidente da OPP, Sofia Ramalho, referiu que “muito pouco se tem falado sobre os impactos da doença física na saúde mental” e vice-versa.

“Temos em Portugal um conjunto de doenças físicas [como a diabetes ou os AVC- Acidentes Vasculares Cerebrais] que são uma preocupação. E temos, ao mesmo tempo, uma prevalência superior das situações de depressão e de ansiedade superior àquilo que acontece na União Europeia. Ainda pouco se fala do físico e do mental enquanto níveis de saúde integrados”, apontou.

Sofia Ramalho lamentou o que considera ser a negligência do país sobre esta questão, lembrando: “O preço desta negligência não recai só sobre o nosso bem-estar físico, também recai na própria economia. É uma irresponsabilidade grande que o Governo não tenha uma ação sobre este facto”.

De acordo com o estudo da OPP a depressão, o stresse e a ansiedade aumentam até 36% o risco de desenvolver doença cardíaca coronária e existe um risco acrescido entre 26% e 46% de desenvolver doença cardíaca coronária.

O risco de se sofrer um AVC também aumenta 39% e há um acréscimo de 35% no risco de ter um ataque cardíaco, bem como de 17% no risco de morrer com um problema cardíaco e, ainda, 35% de diagnóstico de doença física.

A relação entre doença mental e doença física é influenciada por múltiplos fatores comportamentais como atividade física, obesidade, consumo de álcool, bem como psicológicos como afetividade negativa e desmotivação.

Somam-se os sociais, como por exemplo por viver em situação de pobreza.

Para a OPP são necessárias “respostas integradas em saúde, respostas que considerem a interdependência de fatores genéticos, biológicos, comportamentais, psicológicos e sociais e dos seus impactos na saúde física e mental”.

Assim, o documento hoje divulgado inclui recomendações como investir em políticas públicas pró-saúde ou uma intervenção precoce na saúde mental.

O acesso universal a intervenções psicológicas é outras das recomendações, bem como o financiamento da pesquisa em psicologia da saúde ou a prevenção de riscos psicossociais nas organizações.

“Portugal gasta milhões com as consequências de doenças crónicas, por exemplo a diabetes, mas, por outro lado, subestima o papel do stresse psicológico. É crucial que o próprio Estado aposte numa investigação sobre o verdadeiro custo da doença para investir na sua prevenção”, referiu Sofia Ramalho.

À Lusa, a vice-presidente da OPP defendeu que “as políticas públicas têm que estar evidenciadas na ciência psicológica também para que possam ser definidas estratégias de prevenção e promoção, por exemplo, de comportamentos que sejam mais amigos de estilos de vida saudáveis ou favoráveis à adaptação à doença e ao minorar os impactos da doença”.

A vice-presidente da OPP propôs ainda a implementação de modelos multi-níveis nos cuidados de saúde primários porque esta organização permitiria que o acesso a cuidados psicológicos fossem universalizados e acontecessem em função das necessidades.

Nesse sentido, as respostas para os utentes seriam muito mais dirigidas àquilo que são as suas situações.

“Acho que há sempre uma grande preocupação do Estado com as questões da economia, mas não há uma verdadeira economia sem prevenção em saúde”, concluiu.

LUSA/HN

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