Dr. José Maria Tallon Autor do livro Sabemos Comer? Estratégias para o mundo atual

Segredo para uma alimentação saudável e sustentável

10/17/2023

Hoje, mais do que nunca, as alterações climáticas estão na ordem do dia, e já fazem parte da nossa realidade, estas são resultado de uma exploração desmedida dos recursos naturais por parte do homem.

A alimentação tem um impacto colossal nesta exploração, não só pelo consumo excessivo de carne e produtos de origem animal e pelo desperdício alimentar, como também pelo próprio sistema de transporte de alimentos.

É assim muito importante, praticarmos uma alimentação mais sustentável, ou seja, uma alimentação que seja culturalmente aceite e acessível, e que permita satisfazer todas as necessidades fisiológicas, ao mesmo tempo que assegura o respeito pela biodiversidade e ecossistemas, sendo economicamente justa e viável, combatendo o desperdício. Um alimento para ser considerado sustentável, deve ser produzido através de um método que respeite o ambiente, não ser processado e deve ser local e sazonal.

Partilho convosco algumas medidas que podem ajudar a diminuir o impacto da alimentação nas alterações climáticas, e também a melhorar o nosso estado de saúde, pois uma alimentação mais sustentável é também mais saudável.

Em primeiro lugar, devemos aumentar o consumo de produtos de origem vegetal, cujo impacto na poluição atmosférica é menor e são também mais ricos em nutrientes e estão associados a um menor risco cardiovascular.

De seguida, é importante consumirmos produtos de época e preferencialmente de produtores locais, para além de diminuirmos o consumo de energia na sua produção, diminuímos também a libertação de carbono para a atmosfera, durante o seu transporte. Estes alimentos são também mais saborosos e preservam melhor os seus nutrientes e o consumo de produtos adquiridos a produtores locais, aumenta a proximidade entre consumidor e produtor, o que faz com que exista um maior conhecimento sobre as boas práticas do produtor. Nesse caso, o consumo do plástico é também diminuído, pois existe uma menor necessidade de utilização de embalagens.

Por fim e não menos importante, há que diminuir o desperdício alimentar, por exemplo, podemos consumir a fruta e cozinhar os legumes com casca, e aproveitar sempre as sobras para elaborar novos pratos igualmente saborosos. É também importante olhar sempre para o prazo de validade dos alimentos.

Se seguirmos estas 3 premissas, ajudamos a garantir a sustentabilidade da nossa alimentação no futuro e garantimos os recursos necessários para as gerações seguintes.

Estas e outras práticas são a base do padrão alimentar mediterrâneo, padrão esse que pratico, recomendo e defendo, como sendo o que contribui para uma melhor saúde, a todos os níveis.

Este é o padrão alimentar típico dos países mediterrâneos. É amplamente estudado sendo associado a vários benefícios para a saúde, nomeadamente a redução da incidência das doenças cardiovasculares, cancro, Parkinson e Alzheimer.

O padrão alimentar mediterrânico baseia-se em 10 princípios: cozinha simples; elevado consumo de produtos vegetais; consumo de produtos vegetais produzidos localmente e da época; preferência pelo azeite como principal fonte de gordura; moderado consumo de lacticínios; utilização de ervas aromáticas para temperar em detrimento do sal; consumo frequente de pescado e baixo de carnes vermelhas; consumo baixo de vinho tinto e apenas nas refeições principais (exceção crianças e grávidas); água como principal bebida e convivialidade à volta da mesa.

Infelizmente esta dieta, que era a base da alimentação em Portugal, tem vindo progressivamente a perder força, mas acredito que com a disseminação do conhecimento dos benefícios deste padrão alimentar, tanto para a saúde como para o ambiente, vai haver um aumento dos praticantes da mesma. Esse é o trabalho que faço todos os dias e que continuarei a fazer.

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Percursos Assistenciais Integrados: Uma Revolução na Saúde do Litoral Alentejano

A Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano implementou um inovador projeto de percursos assistenciais integrados, visando melhorar o acompanhamento de doentes crónicos. Com recurso a tecnologia digital e equipas dedicadas, o projeto já demonstrou resultados significativos na redução de episódios de urgência e na melhoria da qualidade de vida dos utentes

Projeto Luzia: Revolucionando o Acesso à Oftalmologia nos Cuidados de Saúde Primários

O Dr. Sérgio Azevedo, Diretor do Serviço de Oftalmologia da ULS do Alto Minho, apresentou o projeto “Luzia” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa inovadora visa melhorar o acesso aos cuidados oftalmológicos, levando consultas especializadas aos centros de saúde e reduzindo significativamente as deslocações dos pacientes aos hospitais.

Inovação na Saúde: Centro de Controlo de Infeções na Região Norte Reduz Taxa de MRSA em 35%

O Eng. Lucas Ribeiro, Consultor/Gestor de Projetos na Administração Regional de Saúde do Norte, apresentou na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde os resultados do projeto “Centro de Controlo de Infeção Associado a Cuidados de Saúde na Região Norte”. A iniciativa, que durou 24 meses, conseguiu reduzir significativamente a taxa de MRSA e melhorar a vigilância epidemiológica na região

Gestão Sustentável de Resíduos Hospitalares: A Revolução Verde no Bloco Operatório

A enfermeira Daniela Simão, do Hospital de Pulido Valente, da ULS de Santa Maria, em Lisboa, desenvolveu um projeto inovador de gestão de resíduos hospitalares no bloco operatório, visando reduzir o impacto ambiental e económico. A iniciativa, que já demonstra resultados significativos, foi apresentada na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, promovida pela Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar

Ana Escoval: “Boas práticas e inovação lideram transformação do SNS”

Em entrevista exclusiva ao Healthnews, Ana Escoval, da Direção da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar, destaca o papel do 10º Congresso Internacional dos Hospitais e do Prémio de Boas Práticas em Saúde na transformação do SNS. O evento promove a partilha de práticas inovadoras, abordando desafios como a gestão de talento, cooperação público-privada e sustentabilidade no setor da saúde.

Reformas na Saúde Pública: Desafios e Oportunidades Pós-Pandemia

O Professor André Peralta, Subdiretor Geral da Saúde, discursou na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde sobre as reformas necessárias na saúde pública portuguesa e europeia após a pandemia de COVID-19. Destacou a importância de aproveitar o momento pós-crise para implementar mudanças graduais, a necessidade de alinhamento com as reformas europeias e os desafios enfrentados pela Direção-Geral da Saúde.

Via Verde para Necessidades de Saúde Especiais: Inovação na Saúde Escolar

Um dos projetos apresentado hoje a concurso na 17ª Edição do Prémio Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar, foi o projeto Via Verde – Necessidades de Saúde Especiais (VVNSE), desenvolvido por Sérgio Sousa, Gestor Local do Programa de Saúde Escolar da ULS de Matosinhos e que surge como uma resposta inovadora aos desafios enfrentados na gestão e acompanhamento de alunos com necessidades de saúde especiais (NSE) no contexto escolar

Projeto Utente 360”: Revolução Digital na Saúde da Madeira

O Dr. Tiago Silva, Responsável da Unidade de Sistemas de Informação e Ciência de Dados do SESARAM, apresentou o inovador Projeto Utente 360” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas , uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH). Uma ideia revolucionária que visa integrar e otimizar a gestão de informações de saúde na Região Autónoma da Madeira, promovendo uma assistência médica mais eficiente e personalizada

MAIS LIDAS

Share This