“Não estou satisfeita e não queremos este tipo de serviço no nosso hospital. A Ordem dos Médicos (OM), o senhor ministro [Saúde], o conselho de administração [da Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano] têm de se entender para arranjar uma solução, para que isto não continue a acontecer”, defendeu Fermelinda Carvalho, em declarações à agência Lusa.
A OM disse, na quinta-feira, que “não haverá urgência de cirurgia” no hospital de Portalegre “em cerca de 20 dos 30 dias deste mês”, enquanto a direção clínica aludiu a “constrangimentos graves” no serviço.
“Lamento, eu acho que nós portugueses não descontamos impostos para isto. Cada vez pagamos mais impostos em Portugal e cada vez somos mais mal servidos”, criticou hoje a autarca, eleita pelo PSD/CDS-PP.
Fermelida Carvalho prometeu levar este tema à reunião do executivo camarário, que vai decorrer na segunda-feira, a partir das 09:30, no sentido de ser tomada uma posição oficial em relação a esta matéria.
Contactado na quinta-feira pela Lusa, o presidente da Sub-região de Portalegre da OM, Hugo Capote, explicou que em “cerca de 20 dos 30 dias deste mês só vai haver um cirurgião em todo o hospital” para dar “apoio aos doentes que estão internados”.
“Nesses dias, não há ninguém que veja os doentes que chegam à urgência cirúrgica externa e, nos outros, haverá porque contrataram médicos externos”, precisou.
Segundo o representante da OM, nesses “cerca de 20 dias”, no Hospital Dr. José Maria Grande, em Portalegre, “qualquer doente que chegue e precise de cirurgia terá de ser transferido para outro hospital”.
No mesmo dia, Vera Escoto, diretora clínica do hospital de Portalegre, pertencente à Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (ULSNA), aludiu à Lusa a “constrangimentos graves” nas urgências cirúrgicas, este mês.
Na quinta-feira, disse, estavam “assegurados 13 dos 30 dias do mês com urgência externa de cirurgia” durante as 24 horas, enquanto a urgência interna de cirurgia – ou seja, um cirurgião no internamento nas 24 horas do dia para alguma situação urgente – “está garantida todo o mês”.
“Nesses 13 dias, tenho uma equipa completa, com dois cirurgiões, e consigo ter a urgência externa e interna abertas. Nos outros em que teremos só um cirurgião, no internamento, haverá grandes constrangimentos e a maioria dos doentes que necessitem de cuidados cirúrgicos urgentes poderão ter de ser transferidos para outra unidade”, explicou.
A diretora clínica indicou que, em caso de necessidade, os utentes serão transferidos “para o Hospital de Santa Luzia, em Elvas”, também da ULSNA, ou para outra unidade da rede hospitalar, mas escusou-se a admitir qualquer fecho das urgências cirúrgicas em Portalegre.
Alertando tratar-se de “uma situação dinâmica”, Vera Escoto referiu que, para garantir as escalas este mês para a urgência, já conseguiu “arranjar médicos prestadores de serviços, mas não para todos os dias, nem para todos os turnos”, embora continue a tentar: “Ainda estou a tentar junto de empresas prestadoras de serviços, à procura de médicos para colmatar falhas”.
Mais de 30 hospitais de norte a sul do país estão a enfrentar constrangimentos e encerramentos temporários de serviços devido à dificuldade das administrações completarem as escalas de médicos. Em causa está a recusa de mais de 2.500 médicos em fazerem mais do que as 150 horas extraordinárias anuais a que estão obrigados.
Esta crise já levou o diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Fernando Araújo, a admitir que novembro poderá ser dramático, caso o Governo e os sindicatos médicos não consigam chegar a um entendimento.
As negociações entre sindicatos e Governo já se prolongam há 18 meses e há nova reunião marcada para sábado.
LUSA/HN
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