Novembro 2023, mês de sensibilização para o cancro do pulmão em Portugal.
As fusões do gene RET são alterações genéticas específicas associadas a certos casos de cancro de pulmão de células não pequenas (CPCNP).
Essas fusões do RET são encontradas em 1,7% dos doentes com CPCNP não escamoso, uma percentagem relativamente pequena, porém significativa de doentes com CPCNP. Sendo que a presença dessas fusões pode influenciar o prognóstico e as opções de tratamento, torna-se fundamental a sua identificação através de estudo molecular abrangente, nomeadamente por NGS (next generation sequencing).
No contexto clínico atual, a deteção das fusões do RET pode orientar escolhas terapêuticas mais precisas. Neste sentido foram desenvolvidos fármacos como os inibidores do RET, considerados terapias direcionadas especificamente contra as células neoplásicas com essa alteração genética. Isto representa um grande avanço na abordagem personalizada do tratamento, tendo em conta as características moleculares específicas do tumor.
A abordagem adequada de doentes com cancro de pulmão de células não pequenas e fusões RET é crucial para otimizar o cuidado.
Recentemente foi publicado no JAMA oncology o artigo “Prevalence of Thromboembolic Events in Patients With Non–Small Cell Lung Cancer and RET Fusions”.
O estudo destaca que embora o TEV ocorra em 5 – 14% dos doentes com CPCNP, esta cifra aumenta a 30 – 48% em casos de fusões do ALK ou oncogene ROS1, encontrando-se uma prevalência igualmente alta em doentes com CPCNP e fusões do RET.
Este risco parece maior em doentes mais novos, tendo sido objetivado uma maior recorrência de TEV apesar de anticoagulação terapêutica, o que pode dever-se a uma maior trombogenicidade neste tipo de doentes.
Perante esta realidade torna-se de facto relevante considerarmos a profilaxia anticoagulante nessa população específica, e mais uma vez nos obriga a realizar uma abordagem individualizada e multidisciplinar, com o objetivo de minimizar as complicações trombóticas que sabemos que aumentam a mortalidade e agravam a qualidade de vida dos doentes oncológicos, com impacto económico quer para o próprio doente quer para os sistemas de saúde.
Além disso, a conscientização sobre factores de risco adicionais, adaptação de protocolos de tratamento e controlo clínico regular são elementos fundamentais para uma abordagem abrangente e mais efectiva, contribuindo para a eficácia do tratamento global.
Esta abordagem holística reflete o compromisso com a saúde integral para os nossos doentes e realça a importância de considerar e integrar factores específicos do tipo tumoral na prática clínica, como o contributo das fusões oncogénicas no potencial trombogênico.
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