“Não sei até que ponto é que o nosso serviço de apoio emocional pode ser considerado um barómetro da população em termos económicos, mas o facto é que há largos meses tem havido um acréscimo de chamadas em que as dificuldades financeiras surgem durante a conversa”, disse à agência Lusa Francisco Paulino.
O responsável contou que acontece ocasionalmente a pessoa que liga dizer a meio da chamada que vai ter de desligar por o saldo do telemóvel estar a acabar e só poder voltar a carregá-lo no final do mês.
“Isto acontece e deixa-nos muito constrangidos”, disse, relatando que também chegam à caixa do correio da SOS Voz Amiga vários pedidos para serem as voluntárias a ligar porque o utente não tem dinheiro para o fazer.
“São situações que causam enorme desconforto nas voluntárias, até porque uma das normas do serviço é o duplo anonimato, que não permite que sejamos nós a ligar”, explicou.
Perante esta situação, “a única solução” era criar condições para que estas pessoas, entre outras, também tenham a possibilidade de contactar a SOS Voz Amiga, destinada a ajudar pessoas que se encontram em situações de sofrimento causadas pela solidão, ansiedade, depressão ou risco de suicídio.
“Fomos junto dos responsáveis da operadora NOS telecomunicações, com quem temos um protocolo, e expusemos a situação. Foram recetivos ao nosso pedido de uma forma que consideramos extremamente solidária e generosa e o número verde já está a funcionar”, realçou Francisco Paulino.
O número 800 100 441 funcionará diariamente, entre as 15:30 e as 00:30, juntando-se aos que já existiam (213 544 545; 912 802 669; 963 524 660).
Relativamente ao número de chamadas atendidas, Francisco Paulino disse que, em 2023, foram na ordem das 9.000, tal como tinha acontecido no ano anterior, mas observou que muitos apelos ficam por atender.
“Vamos atendendo na medida do possível, mas sabemos, através de relatórios que recebemos mensalmente, que são muitas as chamadas que ficam por atender, porque não temos voluntárias suficientes para dar resposta a toda a gente que nos liga”, disse, adiantando que atualmente o serviço tem 60 voluntários, mas seria preciso o triplo para dar “uma melhor resposta em cada turno”.
Sobre os motivos que levam as pessoas a ligar, Francisco Paulino apontou a ansiedade, depressão “e outros problemas que afetam a vida emocional de cada um”.
“Logo em seguida vem a solidão, que cada vez é maior e isto, por arrasto, leva cada vez mais a ideias suicidárias”, sublinhou.
Questionado sobre a criação da linha nacional gratuita para a prevenção do suicídio e de comportamentos auto lesivos, que irá funcionar em articulação com o Serviço de Aconselhamento Psicológico da linha telefónica SNS 24, disse “ser excelente”, porque “o sofrimento não tem horas”.
Disse ainda esperar poder fazer parte do projeto e contribuir com a experiência da linha SOS Voz Amiga.
“O Serviço Nacional de Saúde não tem capacidade de dar resposta – e não é culpa dos profissionais – e ir a um particular sai muito caro, nem toda a gente pode fazer isso”, lamentou Francisco Paulino.
Elucidou ainda: “Se pensarmos que a primeira consulta de psiquiatria leva quase um ano até acontecer e que depois os intervalos entre as consultas são demasiado longos, as pessoas ficam com poucas hipóteses de se tratarem”.
LUSA/HN
0 Comments