Infecciologista diz que luta contra a dengue deve centrar-se na eliminação do mosquito transmissor

9 de Fevereiro 2024

O infecciologista Jaime Nina atribui o aumento de dengue em países como o Brasil ao crescimento da população em regiões quentes e às chuvas tropicais, defendendo que a resposta passa pela eliminação do mosquito que transmite a doença.

“A dengue tem aumentado e tem aumentado há um século. Há várias explicações para isso, uma das quais é que a população das regiões tropicais tem vindo a aumentar, explodiu literalmente. O mosquito tem mais onde se alimentar”, disse.

No Brasil, o rápido aumento do número de casos de dengue levou as autoridades do Rio de Janeiro, a segunda cidade mais populosa do Brasil, a decretaram o estado de emergência em saúde pública, a poucos dias das celebrações do Carnaval, que levam multidões de turistas à cidade.

De acordo com informações da Secretaria Municipal de Saúde, foram registadas só no mês de janeiro 10.156 ocorrências de casos de dengue na cidade, quase metade dos 22.959 casos registados em todo o ano de 2023.

O mosquito do género Aedes, que transmite ao homem o flavivírus da família Flaviviridae que provoca a doença, “adapta-se muito bem ao homem”, sublinhou o infecciologista do Hospital Egas Moniz e professor de Infecciologia e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa.

O aumento da população e o aumento das chuvas tropicais (a larva do mosquito é aquática) são as principais razões apontadas por Jaime Nina para este aumento de casos, sendo que se estima a existência de 400 milhões de casos por ano, ou seja, cinco por cento da população do mundo.

O surto no Brasil seguiu-se a um período de chuvas intenso em algumas das zonas mais populosas no pais, o que poderá ter estado na origem do rápido aumento de casos.

Em 2023, o país sul-americano registou mais de 1,6 milhões de casos da doença, mais de um quinto de todos os notificados no mundo, e 1.094 mortes, um recorde histórico.

O especialista destaca o avanço das vacinas contra esta doença, como a mais recente, de produção brasileira.

Atualmente na terceira fase de testes clínicos, esta vacina tem uma eficácia global de 79,6% dois anos após a injeção, segundo um estudo publicado recentemente na revista científica New England Journal of Medicine.

O estudo diz que a vacina de dose única desenvolvida pelo Instituto Butantan, um centro de pesquisa com sede em São Paulo, é 73,6% eficaz entre aqueles que nunca tiveram dengue antes, e 89,2% eficaz entre aqueles que já tiveram a doença.

Mas Jaime Nina insiste na necessidade de combater o mosquito: “A resposta é atacar o mosquito, foi assim que foi atacada a febre-amarela e o dengue em alguns sítios”, afirmou.

E acrescentou que existem várias ferramentas ao dispor, como as redes e os inseticidas que hoje em dia já não têm o grau de toxicidade que apresentavam há 50 anos.

De igual forma é importante a monitorização dos casos. “Um caso de dengue isolado passa despercebido, se houver dois mil e tal não há maneira de passar despercebido”, sublinha.

LUSA/HN

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