Vice-PGR propõe introdução de taxas moderadoras para apresentar queixas

3 de Março 2024

O vice-procurador-Geral da República propôs hoje medidas para reduzir o tempo de resposta na justiça, entre as quais a introdução de taxas moderadoras para apresentar queixas, ponderar o fim da fase de instrução e limitar o efeito suspensivo dos recursos.

No encerramento do XIII Congresso do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP), a decorrer em Ponta Delgada, o vice-procurador-Geral da República (vice-PGR), Carlos Adérito Teixeira, elencou uma série de medidas para tornar a justiça mais célere e ágil, nomeadamente a introdução de taxas moderadas no acesso, à semelhança do que já acontece no Serviço Nacional de Saúde.

“Parece-me que teria algum efeito instituir uma taxa moderadora à apresentação de queixas criminais. Penso que responsabilizava mais e não se apresentava queixas por toda e qualquer razão, um apetite momentâneo. Apesar de eu até ser favorável à redução das custas, pelo menos em algumas áreas, mas aqui julgo que se justificaria”, disse.

O vice-PGR explicou que o custo poderia ter um valor baixo, na ordem dos cinco euros, mas ajudaria a evitar a apresentação de “queixas infundadas” que acabam por implicar movimentar a máquina judiciária, nomeadamente do Ministério Público (MP).

“Para reduzir as entradas de litígios no sistema penso que era importante vir a consagrar o princípio da oportunidade. Tanto se poderia refletir na abertura de processos, fazendo alguma depuração relativamente a bagatelas penais, mas também conferir prioridade, ou não, a certas investigações em função dos meios disponíveis e até alargar o âmbito da justiça consensual e procedimentos céleres”, propôs o magistrado.

Carlos Adérito Teixeira afirmou que “há muitas coisas” para fazer na Justiça, mas “a primeira delas era não alterar a legislação, ou não alterar muito”, porque “isso gera sempre algumas convulsões”, mas a fazer-se, que fosse “de forma ponderada com rigor e construída com o contributo dos profissionais do foro e não contra eles”.

Entre as medidas de alteração propostas, o vice-PGR incluiu a ponderação do fim da fase de instrução nos processos e “os ganhos para o sistema e para o cidadão”, admitindo que seria necessário acautelar direitos, e “limitar um conjunto de intervenções que têm apenas uma finalidade dilatória”, nomeadamente ao nível dos recursos, considerando que “era preciso rever os atos que admitem recurso e mais ainda suprimir o efeito suspensivo dos recursos”.

Defendeu ser necessário rever a distribuição eletrónica de processos, que “causa grande transtorno à vida dos magistrados”, rever a arbitragem, com “problemas que estão muito mais escamoteados” que em outras áreas da Justiça, ou, na investigação da criminalidade económica e financeira grave, “admitir-se na lei, com limites, a utilização de software espião, nomeadamente nas buscas online ou até nas ações encobertas em ambiente digital”.

Sobre segredo de justiça, disse que muitas vezes o MP é alvo de acusações infundadas, que tem informação para refutar, mas que não consegue usar dentro da lei, defendendo que este crime passe a constar do catálogo dos que admitem escutas telefónicas, o que “ajudaria muito a clarificar a situação”.

“Penso que se poderia excecionar a utilização de prova contra os jornalistas, porque aí a comunicação social desempenha uma função muito importante, obviamente não se quer restringir e, portanto, parece-me que se poderia considerar como algo a semelhante a conversas com sigilo profissional”, afirmou.

Carlos Teixeira admitiu também que o MP deve melhorar a sua comunicação e não só a nível institucional, aumentando a possibilidade de os procuradores defenderem publicamente o seu trabalho: “Para além da comunicação institucional devemos pensar na comunicação individual. Não sei, tenho as maiores dúvidas que o dever de reserva hoje ainda se justifique nos termos em que está. Será necessário rever os limites conceptuais e até no plano constitucional.”

O magistrado referiu-se a tempos de “alguma sensação de impunidade, de inquietação social e irascibilidade mediática” em que “o MP acaba por funcionar como um regulador ético-social” de defesa da legalidade democrática.

“Somos uma magistratura de iniciativa e não podemos baixar o padrão ético. É verdade que o sistema não é perfeito, não é infalível, o MP pode enganar-se, mas não engana nem aceita ser enganado. Somos um corpo de magistrados que atua com serenidade, mas também com coragem. Jamais nos pode faltar a coragem. Somos profissionais de mão-cheia. Cada um de nós tem um compromisso ético com a comunidade e julgo que depois deste congresso temos um compromisso afetivo e efetivo com o MP”, concluiu.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

TOP Health Awards 2025: Conheça os Finalistas da 2ª Edição

Os TOP Health Awards 2025 anunciaram os 12 finalistas da sua 2ª edição, destacando projetos inovadores nas áreas de Literacia em Saúde, Integração de Cuidados, Tecnologia e Dados, e Diversidade, Equidade e Inclusão. A cerimónia de entrega de prémios ocorrerá a 27 de março na Associação Comercial de Lisboa, reunindo os principais stakeholders do setor da saúde em Portugal.

Jornadas abordam Sono da Mulher no Hospital CUF Tejo

Com o intuito de partilhar conhecimentos sobre distúrbios do sono entre os profissionais de saúde, a Unidade do Sono Hospital CUF Tejo e a Unidade do Sono do Hospital CUF Descobertas, em conjunto com a CUF Academic Center, preparam-se para realizar as “V Jornadas do Sono CUF”.  Nesta quinta edição das Jornadas, agendadas para os dias 4 e 5 de abril, no Hospital CUF Tejo, o foco da discussão será o sono da mulher.

Fundação Grünenthal abre candidaturas para bolsas e prémios na área da dor

A Fundação Grünenthal anunciou a abertura de candidaturas para três iniciativas que visam promover a investigação e a prática clínica na área da dor. Entre os apoios, destacam-se uma bolsa de 8.000€ para investigadores e dois prémios, também no valor de 8.000€ e 2.000€, para trabalhos clínicos e de gestão da dor em ortotraumatologia. As candidaturas decorrem até 30 de abril de 2025.

Cirurgia robótica da Vinci cresce 43% em Portugal em 2024

A cirurgia robótica da Vinci registou um crescimento de 43% em Portugal em 2024, com mais de 3 mil procedimentos realizados. Na Península Ibérica, a faturação superou os 150 milhões de euros, refletindo a expansão desta tecnologia no SNS e em hospitais privados.

HUG Café inaugura no iCBR-FMUC para promover inclusão de jovens autistas

O HUG Café, um projeto de inovação social da APPDA Coimbra em parceria com a Universidade de Coimbra, abriu portas no iCBR-FMUC. O espaço promove a inclusão profissional de jovens autistas, integrando três elementos no seu staff e oferecendo um ambiente acolhedor para a comunidade local.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights