“É uma homenagem, uma manifestação de amizade, de despedida do povo de Pedrógão Grande”, disse hoje à agência Lusa um dos elementos da organização, Noémia Barão.
Segundo Noémia Barão, o médico serviu o concelho desde 01 de agosto de 1985, tendo ainda sido vereador na Câmara e presidente da Assembleia Municipal, além de deputado municipal.
José Manuel Gonçalves Silva, clínico em Pedrógão Grande durante 39 anos, esteve também ligado à Santa Casa da Misericórdia do concelho como membro dos seus órgãos sociais e médico, adiantou esta responsável.
Lembrando que há quatro décadas o concelho “estava muito isolado” em termos de acessibilidades, marcadas por “curvas e contracurvas”, a coorganizadora da homenagem reconheceu que o médico José Silva chegou ao concelho “numa altura complicada e, no entanto, ficou”.
“O que eu destaco neste senhor é a ética profissional e a humanização no exercício da profissão”, realçou Noémia Barão.
À Lusa, o médico, que completa 70 anos no dia 18 de abril, data da aposentação, referiu que quando lhe foi comunicada a intenção de homenagem ficou sem resposta.
“Como é evidente, fiquei comovido, fiquei muito sensibilizado, é algo que me toca profundamente”, sublinhou.
Questionado sobre as razões que motivaram a escolha de Pedrógão Grande, José Silva recordou que quando cumpria o Serviço Militar Obrigatório havia o serviço médico-sociais, tendo-lhe sida oferecida a possibilidade de o fazer em Pedrógão Grande.
“Em 1983, vim temporariamente fazer aquilo que antigamente chamavam as caixas de previdência e conheci Pedrógão”, contou, adiantando que, após ser colocado na Figueira da Foz (Coimbra), concorreu novamente para ficar em Pedrógão Grande.
Sobre a escolha deste concelho, o clínico resumiu desta forma: “Gostei, sentia-me bem e foi essa a opção”.
À pergunta sobre qual o momento mais difícil do seu percurso em Pedrógão Grande enquanto médico de família no centro de saúde, apontou “situações agudas” para as quais eram necessárias respostas.
“É muito diferente ser médico de família numa vila como esta do interior, em que na altura os acessos eram complicados, eram difíceis, do que ser médico de família numa cidade com rede hospitalar perto”, frisou.
Para José Silva, os momentos mais difíceis ocorreram quando lhe aparecia “uma grávida em trabalho de parto”.
“Esses eram os momentos mais complicados”, afirmou o médico natural de Braga e residente em Coimbra desde os 12 anos e que nunca pensou pedir a transferência de Pedrógão Grande.
O médico disse ainda que sai de Pedrógão Grande com o sentido de dever cumprido.
“Certamente que poderia haver coisas que poderia ter feito melhor ou mais, mas, no cômputo geral, tenho a consciência serena e tranquila de que fiz aquilo que devia”, acrescentou.
Quanto ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), criado há praticamente 45 anos, o médico sustentou que “não está assim tão mal como o tentam ‘pintar’”.
“Quando acontece alguma coisa menos boa, tem direito a primeira página, notícias nas televisões, nas rádios”, exemplificou, para destacar que todos os dias são feitos “milhares e milhares de procedimentos” no SNS que “são extremamente úteis”.
Admitindo que o SNS apresenta “problemas que têm de ser corrigidos”, como a questão das carreiras médicas, o médico realçou, contudo, que o país tem atingido “índices de saúde excecionais a nível europeu resultantes do SNS”.
“O SNS foi uma mais-valia brutal para todos nós e acho que é nosso dever, nossa obrigação, de todos nós, defendê-lo e exigir que sejam feitas as correções organizacionais que são necessárias, para manter esta qualidade do SNS que existe”, defendeu José Silva.
A homenagem começa às 10:30, estando previstas diversas intervenções.
LUSA/HN
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