Moçambique/Ciclones: Médicos do Mundo apoiou 8.500 pessoas em cinco anos em Sofala

15 de Março 2024

A delegação portuguesa da ONG Médicos do Mundo apoiou 8.500 pessoas que vivem há cinco anos em centros de reassentamento desde a passagem do ciclone Idai pela província moçambicana de Sofala, mas alerta para a “vulnerabilidade” no terreno.

Em comunicado, a Médicos do Mundo recorda que nos dias 14 e 15 de março de 2019, aquela província no centro de Moçambique foi atingida “pelo poderoso ciclone Idai”, que se estendeu depois a outras regiões do país, provocando 602 mortos, 1.641 feridos e mais de 1,8 milhão de desalojados, além de “enormes consequências que se refletem ainda hoje na vida de muitas populações”.

“Imediatamente a seguir à tempestade, a delegação portuguesa da Médicos do Mundo foi para o terreno, em conjunto com outras organizações nacionais e internacionais, para responder às necessidades mais essenciais da população”, refere a Organização Não-Governamental (ONG), recordando a data.

A organização adianta que ”a organização mantém-se ainda hoje na província de Sofala, onde disponibiliza cuidados primários de saúde, em áreas como doenças infecciosas, saúde sexual e reprodutiva, vigilância materno-infantil ou vacinação, a mais de 2.300 famílias, num total de quase 8.500 pessoas, em quatro centros de reassentamento”.

“Passados cinco anos do Idai, as populações continuam a estar em situação de grande vulnerabilidade, dependendo de apoio para suprir necessidades básicas que comprometem a sua saúde e bem-estar, devido a vários fatores, como níveis elevados de pobreza, infraestruturas frágeis e efeitos das alterações climáticas, com cheias e ciclones tropicais regulares”, alerta ainda.

Citada no comunicado, a diretora executiva da Médicos do Mundo, Carla Paiva, afirma que “é necessário continuar a responder às enormes necessidades das populações moçambicanas”, nomeadamente “garantindo o acesso a cuidados primários de saúde, promover a literacia em saúde e o empoderamento das comunidades”, bem como investindo “na formação dos profissionais de saúde e contribuir para o fortalecimento das infraestruturas de saúde”.

“Para isso, é indispensável reforçar a cooperação para o desenvolvimento, mobilizar mais fundos e garantir que os esforços já realizados não foram em vão, o que só é possível com a regularidade do apoio aos projetos das organizações e ao trabalho de excelência feito pelas equipas no terreno”, aponta ainda.

A ONG recorda que assumiu em 2019 a coordenação e apoio ao centro de reassentamento de Ndeja, situado junto à vila com o mesmo nome, no distrito de Nhamatanda, província de Sofala, onde tinham sido realojadas 402 famílias, num total de 2.344 pessoas.

“Hoje, a organização estendeu a sua intervenção a outros três centros – Kura, Metuchira e Nune -, disponibilizando cuidados de saúde a um total de 2.344 agregados familiares, compostos por 8.466 pessoas”, explica.

Ao longo de cinco anos, a Médicos do Mundo refere ter garantido “mais de 63 mil atendimentos médicos a crianças e adultos, particularmente nas áreas do planeamento familiar e da saúde sexual e reprodutiva, e perto de 19 mil atendimentos de avaliação de crescimento a crianças entre os zero e os 15 anos”.

“Foram ainda efetuadas mais de 3.200 referenciações clínicas para serviços de saúde especializados, realizados mais de 600 partos e administradas cerca de 23 mil vacinas a crianças, grávidas e mulheres em idade fértil”, sublinha a ONG.

Acrescenta que esta intervenção em Sofala “não se resume à prestação de cuidados de saúde”, incluindo também diversas atividades de capacitação e de empoderamento das populações, bem como formação de profissionais de saúde locais, nomeadamente 151 profissionais de saúde e 20 ativistas, entre 2019 e 2023.

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