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Saúde em Alta-Definição: Revolução nos Métodos de Gestão

04/06/2024
Rui Gomes
Especialista de Sistemas de Informação
Mestre em Informática Médica
Diretor do Serviço de Tecnologias e Sistemas de Informação do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, EPE (CHUC)

Iluminando o caminho para serviços de saúde mais eficazes, eficientes e equitativos

Numa era marcada pelas vistosas inovações tecnológicas, o verdadeiro desafio no sector da saúde já transcende a mera integração das tecnologias no nosso dia a dia; e reside sim, na capacidade humana de reinventar e aprimorar os métodos de trabalho. A verdadeira disrupção não ocorre com a entrada “triunfante” das tecnologias nos cuidados de saúde, mas quando os profissionais conseguem inovar os seus processos de trabalho utilizando esses recursos, sendo digitais ou não. Contudo, esta jornada, exige uma requalificação, especialmente ao nível da gestão intermédia, onde deve ser promovida uma abordagem mais empresarial de forma a aumentar a eficiência, qualidade e a redução de desperdícios, ultrapassando as barreiras da nossa forma convencional de trabalhar. Quantos ciclos de ineficiência existem e que problemas raízes permanecem ocultos e que não são propriamente resolvidos com as virtudes dos sistemas informáticos? Isto é um sinal claro para abandonarmos preconceitos. A tal resistência à mudança, muitas vezes vista como um bastião de inércia, pode ser percecionada como um sinal de mudanças iminentes a ocorrer que, sob uma nova perspetiva, representam um motor essencial para o avanço na gestão da saúde. Tal como a resistência encontrada pela roda de uma bicicleta, que lhe permite ganhar tração e movimentar-se, a hesitação perante a mudança pode, paradoxalmente, servir de catalisador para uma transformação efetiva. Senão existe resistência provavelmente é porque não existem processos mudança a decorrer.

Estruturas diferenciadoras nessa transformação é o papel dos Serviços de Gestão Transversais. Exemplos de salientar, como os Serviços de Gestão de Doentes, Sistemas de Informação e Departamentos da Qualidade, ao terem uma compreensão end-to-end da organização, podem identificar pontos de estrangulamento e oportunidades de melhoria com maior precisão do que os Serviços focados exclusivamente nas suas áreas e especialidades. A mudanças efetivas, especificamente nas áreas assistenciais, requerem o envolvimento de uma administração hospitalar intermédia coesa e bem informada. Contudo, isso por si só, não basta. É imperativo que os Serviços de gestão intermédia e outros elementos-chave estejam equipados com as ferramentas e conhecimento adequado para se afirmarem verdadeiros motores de mudança dos processos no sector da saúde nomeadamente desce as compras, gestão de armazéns, farmácia, gestão financeira, gestão de recursos humanos, etc… abordando as questões de forma holística e reconhecendo a interdependência de todos os seus componentes.

E porque projetos na saúde podem atingir níveis de grande complexidade, a formação qualificada em metodologias como o 6 Sigma para administradores hospitalares e gestores de projeto já começou a surgir em hospitais públicos, visando a otimização do fluxo, da qualidade e da velocidade na cadeia de valor, determinada, invariavelmente, pelo seu elo mais fraco. Assumir uma visão abrangente, capaz de identificar e aliviar esses estrangulamentos, é fundamental. A transição da organização de uma abordagem “push”, impulsionada pela produção, para uma abordagem “pull”, guiada pelas necessidades reais, ilustra a necessidade de fluidez nas operações, incentivando cada elemento do sistema a contribuir ativamente para a eliminação de desperdícios e a otimização dos processos. No entanto, a implementação de boas práticas de gestão de projeto encontra os obstáculos típicos de uma cultura e tendência de se continuar a trabalhar sempre da mesma maneira. Priorizar torna-se essencial, e a falta de metodologia e qualificação na estrutura de gestão prejudica a capacidade de se perceber  como realizar mudanças significativas em todos os níveis da hierarquia. As estruturas de trabalho têm de ser adaptáveis; a rigidez hierárquica está a tornar-se obsoleta. Os diretores de Serviço de Gestão estão “carregados” de emails por responder e são pontos de estrangulamento. Em alguns casos, os líderes necessitam mesmo de dar espaço para permitir o crescimento das suas equipas.

Estamos, portanto, perante uma excelente oportunidade para reavaliar os fundamentos das nossas práticas e a urgência de implementar mudanças de forma ponderada e estratégica. Não se trata apenas de mudar os processos só porque na lógica faz sentido mudar, mas de escolhermos com discernimento e direcionar o esforço e recursos para as melhorias nas áreas que primeiro necessitam ser intervencionadas. Os desafios são imensos, mas o potencial para uma transformação positiva e profunda no sector da saúde é igualmente vasto. Estamos num momento de disrupção, que é mais processual do que tecnológico. A questão não é se estamos prontos para enfrentar este desafio, mas sim se estamos dispostos a abraçá-lo com a coragem, metodologia e as qualificações necessárias.

1 Comment

  1. Francisco

    Não há nada a debater…
    O que está aqui dito é dito há mais de 15 anos por muitos. Não há novidade nem na escrita na nem na divulgação.
    O que não é inovação é também alguns usarem as ideias e inovações de outros para se conseguirem mostrar ou ser alguma coisa…
    Enfim…

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