Ana Catarina Pinheiro
MGF
Hospital da Luz

Como tratar feridas, arranhões e cortes pequenos

12 de Abril 2024

A pele tem várias funções, entre as quais:
proteger o organismo contra a ação de agentes externos (físicos, químicos e biológicos)
– impedir a perda excessiva de líquidos
– manter a temperatura corporal
– sintetizar a vitamina D
– agir como órgão dos sentidos

Quando ocorre a descontinuidade do tecido epitelial, das mucosas ou de órgãos, as funções básicas de proteção da pele são comprometidas.

A ferida resulta dessa descontinuidade e pode ser causada por fatores intrínsecos ou extrínsecos, sendo o trauma o mais frequente.

A cicatrização de feridas é um complexo processo biológico e dinâmico que procura restaurar a continuidade dos tecidos e consiste nas fases de hemostasia, inflamação, proliferação e remodelação. Este processo envolve um grande número de tipos de células, incluindo neutrófilos, macrófagos, linfócitos, queratinócitos, fibroblastos e células endoteliais. Vários fatores podem levar a uma deficiente cicatrização de feridas. Alguns fatores são locais, como a oxigenação e a infeção, outros fatores são sistémicos e estão relacionados com o estado geral do indivíduo, tais como a idade, a imobilidade, o estado nutricional, doenças associadas (ex.: diabetes) e o uso de alguns medicamentos (nomeadamente medicamentos imunossupressores). No entanto, estes fatores estão interligados uma vez que os fatores sistémicos alteram os fatores locais e influenciam a capacidade de cicatrização das feridas. Conhecer a fisiopatologia da cicatrização e os fatores que podem acelerá-la ou retardá-la proporciona uma melhor avaliação e a escolha do tratamento mais adequado.

No tratamento das feridas, além dos fatores locais, existem como anteriormente referidos fatores sistémicos que podem afetar o processo de reparação da pele e dos tecidos. Entre os fatores locais que afetam o processo, destaca-se a localização anatómica da ferida.

Tratar feridas superficiais, arranhões ou cortes pequenos de forma adequada é fundamental para promover uma cicatrização rápida e prevenir infeções. Seguem algumas recomendações:

1. Limpeza e desinfeção da ferida: Lave as mãos com água e sabão utilize preferencialmente luvas descartáveis. Evite falar, tossir ou espirrar para cima da ferida. Em seguida, proteja provisoriamente a ferida com uma compressa esterilizada.

Posteriormente lave a ferida suavemente com água corrente ou soro fisiológico, de forma a remover a sujidade e detritos. Lave primeiro em volta e depois do centro para a periferia da ferida. Não retire objetos cravados profundamente (estes devem ser removidos no hospital).

Seque a ferida com uma compressa através de pequenos toques. 

Termine desinfetando a ferida com antissético, como por exemplo a cloroexidina. Se a ferida for superficial e de pequenas dimensões, deixe-a preferencialmente ao ar, ou então aplique uma compressa esterilizada. Se a ferida for mais extensa ou profunda, deverá proteger apenas com uma compressa esterilizada e encaminhar para tratamento por profissionais de saúde.

2. Controlo da hemorragia: Se a ferida apresentar uma hemorragia ativa, aplique uma leve pressão com um pano limpo ou gaze estéril até que a hemorragia cesse (pelo menos 10 minutos). Não utilize algodão diretamente sobre a ferida, pois as suas fibras podem prender-se ao tecido lesado. 

Se as compressas ficarem saturadas de sangue, coloque outras por cima, sem nunca retirar as primeiras.

Se a hemorragia parar, aplique um penso compressivo sobre a ferida.

3. Proteção da ferida: Troque o penso regularmente, pelo menos uma vez ao dia ou sempre que estiver sujo ou húmido.

4. Promoção da cicatrização: Evite coçar ou tocar na ferida para reduzir o risco de infeção e promover uma cicatrização mais rápida. Mantenha a área afetada elevada, se possível, para reduzir o edema. Se necessário, utilize medicamentos analgésicos como o paracetamol.

5.Monitorização da ferida: Observe atentamente a ferida durante o processo de cicatrização. Se houver sinais de infeção, como vermelhidão, edema, aumento da dor, calor local ou secreção purulenta, consulte um profissional de saúde imediatamente.

É importante realçar que estas recomendações são aplicáveis a feridas leves e superficiais. Em casos de ferimentos mais graves, é essencial procurar assistência médica adequada.

Kit Primeiros Socorros

O kit/caixa de primeiros socorros desempenha um papel fundamental na prestação de assistência imediata e adequada em situações de emergência.

Ter uma caixa de primeiros socorros prontamente disponível, significa estar preparado para lidar com lesões e emergências médicas inesperadas que possam surgir em casa, no local de trabalho, durante viagens ou atividades ao ar livre. Uma caixa de primeiros socorros bem equipada permite uma intervenção rápida e eficaz em caso de acidentes, ajudando a minimizar o tempo entre a ocorrência da lesão e o início do tratamento, o que pode ser crucial para garantir melhores resultados.

O conteúdo da caixa de primeiros socorros pode ser muito variado, porém, os produtos e materiais básicos incluem:
— Máscaras de proteção facial;
— Luvas descartáveis;
— Tesoura de pontas redondas e pinça;
— Compressas esterilizadas (de diferentes dimensões incluindo próprias para queimaduras);
— Pensos rápidos de diferentes dimensões;
— Rolo adesivo;
— Ligaduras (elástica e não elástica);
— Solução antisséptica;
— Soro fisiológico (em quantidades de acordo com potenciais necessidades);
Pequenos sacos de plástico para guardar os materiais usados e o lixo;
Medicamentos analgésicos ou anti-inflamatórios orais, de venda livre, como paracetamol e/ou ibuprofeno, em dosagem adequada para diferentes faixas etárias;
Termómetro digital.

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