No espaço europeu tendemos a ver-nos como consumidores de fundos europeus, ao invés de cidadãos. Optamos por liberdades ou benefícios materiais e não por responsabilidades comuns. Está na altura de perguntarmos: o que queremos para a Europa? E, neste caso concreto, o que queremos em termos de saúde?
Podemos sempre melhorar a integração das redes nacionais, promover cuidados transfronteiriços, e tantos outros detalhes. Estas soluções são oportunistas, resolvem os casos graves individuais, as falências pontuais dos sistemas de saúde ou da população junto à fronteira. Mas não são Políticas – com “P” grande. Isto é, não resolvem os problemas dos cidadãos de uma forma próxima e concreta, não traduzem ideologias, prioridades ou formas de ver o mundo. Para estas eleições europeias, no que à saúde diz respeito, o que é estratégico? O que falta fazer no espaço europeu?
Creio que o principal foco deve ser a resposta às pandemias e às pressões de saúde que estão fora do espaço europeu. Pode parecer estranho, mas as prioridades de política de saúde comunitária resolvem-se fora da Europa.
Não é possivel gerir uma pandemia num país, ou mesmo num continente. Só este século já vivemos SARS (2003), gripe das aves (2008), ébola (2013), Zika (2018) e Covid. E quase sempre gerimos isto aos “papeis”, de forma reactiva ou sem grande cuidado, mas sempre com muita força. E a razão é simples para esta falta de foco, aliás de Política. E não é a falta de vontade. É a de saber quem paga as pandemias e o seu combate.
A história não é nova, já no caso da varíola a questão foi a mesma – quem deveria pagar a vacinação fora de portas? Apesar da enorme cooperação e esforço e do maravilhoso resultado civilizacional e humano, todos os países tinham o incentivo para “andar a boleia” e esperar pela ação da Organização Mundial de Saúde e das grandes potências. Para se ter uma ideia dos números, a campanha de erradicação custou à época, entre1967 e 1979, 23 milhões, contra um custo económico de 1,3 mil milhões… ao ano. Porém, o último paciente da varíola foi vacinado porque a Suécia resolveu financiar a vacinação dos últimos indivíduos da Somália. E pagou sozinha e sem jogos de bastidores os últimos desprotegidos.
Mas o problema é mais largo que a vacinação. Como gerir as pressões de saúde fora das fronteiras? Portugal, em particular, tem pressão de imigração de saúde sobretudo associado à maternidade. Este facto ajuda a explicar os recentes picos de mortalidade materna (não explica a totalidade), mas ajuda.
O que gostava de ver discutido não eram proclamações, sobretudo de atores políticos que demonstram as suas habilidades linguísticas. O que gostava de ver ou de saber nesta campanha é: como podemos financiar ou desenvolver um sistema de saúde fora do Espaço europeu, junto dos refugiados, dos países em desenvolvimento, dos que precisam, e de como podemos evitar ou gerir pandemias? Qual o papel da Europa na Saúde Pública?
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