“Existe uma marcada assimetria na distribuição nacional. Comparativamente com a região de Lisboa e Vale do Tejo, onde se encontrou uma prevalência de 18,8%, o Alentejo tem um risco cerca de duas vezes maior (29,2%) enquanto na região Norte o risco é 50% menor (12,9%)”, disse à agência Lusa Cristina Gavina, cardiologista e investigadora principal do estudo observacional Porthos.
A prevalência de insuficiência cardíaca (IC) na zona Centro situa-se nos 17,90% e no Algarve é de 6,61%, a região com o valor mais baixo, indicam os resultados do estudo que são apresentados hoje no Congresso da Associação de Insuficiência Cardíaca Europeia, que decorre até terça-feira em Lisboa, no âmbito da Semana Internacional da Insuficiência Cardíaca.
Para a investigadora, estes dados mostram que se está perante “um problema de saúde pública com uma dimensão muito considerável”, defendendo, por isso, ser “imperativo fazer uma reflexão sobre estes resultados e desenhar políticas de saúde que permitam responder a este problema”.
Mais de 25 anos após a realização do último estudo nacional que avaliou a prevalência de insuficiência cardíaca na população portuguesa, o Porthos, uma iniciativa da Sociedade Portuguesa de Cardiologia e da AstraZeneca, em parceria com a NOVA Medical School, realça que o número das pessoas que vivem com a doença é bastante superior ao esperado.
A investigação confirma que é uma síndrome associada ao envelhecimento, com uma prevalência de 31% nos maiores de 70 anos, enquanto em pessoas entre os 50 e os 59 anos é de 4%.
Estima-se que um em cada seis portugueses viva com insuficiência cardíaca, sendo que as mulheres têm 2,3 vezes maior risco do que os homens de desenvolver a doença.
Segundo o estudo, a maioria das pessoas tem um tipo de insuficiência cardíaca na qual o coração tem dificuldade em relaxar, de forma a acomodar o sangue que chega dos pulmões, denominada insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada, que é mais comum nas mulheres mais idosas, particularmente acima dos 70 anos.
A investigação aponta que mais de 90% das pessoas desconhecem ter a doença, sobretudo as mulheres, os maiores de 70 e os doentes com a forma de insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada.
Cristina Gavina realça a importância da prevenção, “não só dos fatores de risco que podem conduzir à insuficiência cardíaca, mas também de um diagnóstico precoce de quem já tem a síndrome e não tem, por falta de conhecimento, acesso ao tratamento”.
O estudo decorreu entre dezembro de 2021 e setembro de 2023, envolvendo uma amostra de 6.189 pessoas com mais de 50 anos registadas no Serviço Nacional de Saúde em Portugal Continental.
A investigação assentou num modelo inovador de investigação colaborativa, agregando uma equipa extensa de investigadores, médicos e outros profissionais de saúde das entidades parceiras que colaboraram entre si no desenho e no desenvolvimento do estudo.
A síndrome de insuficiência cardíaca é um dos problemas de saúde mais comum no mundo desenvolvido, sendo a principal causa de internamento hospitalar acima dos 65 anos e a sua mortalidade pode chegar aos 50% ao fim de cinco anos.
LUSA/HN
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