O Estudo da Carga Global de Doenças (GBD) 2021, coordenado como é habitual pelo Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME), da Universidade de Washington (Estados Unidos), calcula que se registará naquele período este aumento médio de quase cinco anos, apesar das ameaças geopolíticas, metabólicas e ambientais que o mundo enfrenta.
Os investigadores preveem que o aumento seja maior nos países onde a esperança de vida é mais baixa, refere um comunicado do IHME, acrescentando que tal contribuirá “para uma aproximação entre regiões”.
Consideram ainda que a tendência é em grande parte impulsionada por medidas de saúde pública que melhoram as taxas de sobrevivência a doenças cardiovasculares, covid-19 e a uma série de doenças transmissíveis, maternas, neonatais e nutricionais.
De acordo com o estudo, em Portugal a esperança de vida à nascença para as mulheres passará de 84,8 anos em 2022 para 87,4 em 2050, um aumento de 2,6 anos, enquanto a dos homens aumentará 3,4 anos (de 79,1 em 2022 para 82,5 em 2050).
As doenças que mais afetarão a “próxima geração” são as não transmissíveis, como as cardiovasculares, cancro, doença pulmonar obstrutiva crónica e diabetes, associadas à obesidade, hipertensão arterial, alimentação pouco saudável e tabagismo.
À medida que as doenças transmissíveis e por causas maternas, neonatais e nutricionais vão perdendo peso para as doenças não transmissíveis, ganha importância o indicador relativo aos anos vividos com incapacidade (YLD) face ao dos anos perdidos (YLL). A expectativa é de que mais pessoas vivam mais, mas que aumente também o número de anos vividos com problemas de saúde.
As estimativas são de um aumento médio de 4,5 anos na esperança de vida a nível mundial (de 73,6 anos em 2022 para 78,1 em 2050), mas os anos de vida saudável serão apenas mais 2,6 (passando de 64,8 para 67,5 anos no mesmo período).
“Além de um aumento na expectativa de vida em geral, descobrimos que a disparidade na expectativa de vida entre as regiões irá diminuir”, disse Chris Murray, diretor do IHME, citado no comunicado.
Tal indica, adiantou, que “embora as desigualdades na saúde entre as regiões de rendimento mais elevado e mais baixo continuem a existir, as disparidades estão a diminuir, prevendo-se que os maiores aumentos (da esperança média de vida) ocorram na África Subsariana”.
Segundo Chris Murray, as ações para prevenir e mitigar fatores de risco comportamentais e metabólicos são as que têm mais possibilidades de acelerar a redução da carga global de doenças.
Estas conclusões baseiam-se nos resultados do Estudo sobre a Carga Global de Doença, Lesões e Fatores de Risco, também divulgado hoje na Lancet, que indica que “o número de pessoas com problemas de saúde e morte precoce causada por fatores de risco relacionados com o metabolismo, como a hipertensão, nível excessivo de açúcar no sangue e índice de massa corporal (IMC) elevado, aumentou 50% desde 2000” e até 2021.
Greg Roth, diretor do Programa de Métricas de Saúde Cardiovascular, do IHME, citado num comunicado do instituto norte-americano, defende que o aumento da exposição a fatores de risco como os referidos, além de um grande consumo de bebidas açucaradas e pouca atividade física, exige que se aposte com urgência nas “intervenções focadas na obesidade e nas síndromes metabólicas”.
Neste estudo associado, os cálculos dos investigadores tiveram em conta 88 fatores de risco (entre os ambientais e ocupacionais, os comportamentais e os metabólicos) e determinados resultados de saúde em 204 países e 811 zonas subnacionais, entre 1990 e 2021.
Também são apresentados vários cenários alternativos para comparar os potenciais resultados de saúde se diferentes intervenções de saúde pública pudessem eliminar a exposição a vários grupos chave de fatores de risco até 2050.
“Globalmente, os efeitos previstos são mais fortes no cenário de ‘Diminuição dos Riscos Comportamentais e Metabólicos’, com uma redução de 13,3% na carga de doenças, expressa em número de anos de vida saudável perdidos devido a problemas de saúde e morte precoce, em 2050 em comparação com o cenário de ‘Referência’ (o mais provável)”, indica Stein Emil Vollset, do IHME e primeiro autor do estudo.
Em relação aos dois outros cenários, um focado em ambientes mais seguros e outro na melhoria da nutrição e vacinação infantil, também se preveem reduções no número de anos saudáveis perdidos em relação ao de referência.
“Isto demonstra a necessidade de progresso contínuo e de recursos nestas áreas e o potencial para acelerar o desenvolvimento até 2050”, diz Amanda Smith, diretora assistente de Previsão no IHME.
Liane Ong, investigadora chefe no mesmo instituto, refere que “o GBD destaca que as tendências futuras podem ser bastante diferentes das passadas, devido a fatores como as alterações climáticas e o aumento da obesidade e da dependência, mas, ao mesmo tempo, que existem muitas oportunidades para alterar a trajetória da saúde na próxima geração”.
Segundo o Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde, o Estudo da Carga Global de Doenças é “o maior e mais abrangente esforço para quantificar a perda de saúde a nível global e ao longo do tempo”, incluindo o GBD 2021 mais de “607 mil milhões de cálculos relativos a 371 doenças e lesões”.
LUSA/HN
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