Carlos Zorrinho foi o orador da sessão “Saúde e Transformação digital: Uma Abordagem Humanista”, realizada esta sexta-feira no Cascais International Health Forum.
Em declarações ao nosso jornal, o representante português na União Europeia salientou que a “transformação digital está a mudar o mundo e a sociedade”, correspondendo a uma “enorme oportunidade, ao mesmo tempo que a uma tremenda ameaça”.
“Enquanto que em alguns países os dados são do Estado ou são do mercado, na Europa os dados são das pessoas. É por isso que temos de conseguir que estes dados sejam colocados ao serviço da Ciência para termos melhores respostas”, disse.
Zorrinho defendeu ser essencial “garantirmos um sentido ético, de propósito e de ganho para as sociedades” quando pensamos na transformação digital em áreas como a Saúde. “Sabemos que na Saúde é difícil chegar a toda a gente com a qualidade que gostaríamos, mas é importante que consigamos “empoderar” mais os profissionais de saúde, usando a máquina e não sendo usados por ela”.
Para o eurodeputado, quando se fala em transformação digital é importante perceber quem é que vai estar ao comando. “Se as pessoas, os profissionais de saúde e as instituições estiverem ao comando deste novo ecossistema – baseado na biologia, física quântica e tecnologia – é uma grande oportunidade. É evidente que se formos controlados pelos sistemas, estes ficarão em roda livre ou controlados por quem não tem esse interesse ético. Portanto, temos de ser nós a estar no comando.”
Sobre o caminho que está a ser feito pela União Europeia no que toca a esta matéria, garantiu que “é um caminho muito focado nas pessoas e na regulação. Muito recentemente foram definidas leis digitais, nomeadamente a nível da Inteligência Artificial, dos mercados digitais e do espaço europeu de dados em saúde. Em todas estas áreas, a regulação europeia é muito focada no data deal. Isto é, as pessoas cedem voluntariamente os seus dados, recebendo algo em contrapartida, como é o caso de cuidados de saúde com mais qualidade e mais acessíveis.”
Apesar de admitir que a transformação digital traz grandes oportunidades para a saúde das populações, Carlos Zorrinho reconhece que a humanização dos cuidados de saúde pode estar em causa.
“A humanização pode estar em causa, dependendo das decisões que tomarmos… Se são políticas, técnicas ou baseadas na evidência. É por isso que vai ser preciso refletir sobre a forma como vão ser utilizadas estas ferramentas por parte dos profissionais de saúde no momento da decisão. É evidente que um especialista, confrontado com um diagnóstico, feito por uma aplicação com muitos dados, pode dar o toque humano. No entanto, esse toque humano terá que ter um nível de consentimento”, enfatizou.
HN
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