A ideia partiu do cirurgião cardíaco e vice-presidente Conselho Português para a Saúde e Ambiente (CPSA), João Queiroz e Melo, que disse conhecer com “um enormíssimo pormenor o que se passa dentro dos hospitais e dentro dos blocos operatórios” e sabia que nos Estados Unidos, onde se formou, esses plásticos são reutilizados porque estão esterilizados.
“A lei portuguesa diz que tudo o que sai de um bloco operatório está contaminado, o que é mentira. Portanto, comecei a fazer com a Entrajuda, que é um banco de bens doados”, o projeto “Second chance”, enquadrado no conceito de Economia Circular, que conta atualmente com o apoio de quatro hospitais públicos e privados da cidade de Lisboa.
O plástico recuperado neste projeto já foi utilizado para fabricar pastas para reuniões científicas, fitas identificadoras para congressos, um protótipo de ‘anorak’ para viajantes e durante a Jornada Mundial da Juventude 2023, em Lisboa, foi usado para produzir mais de 1000 toalhas que cobriram as mesas da comunhão.
A confeção das toalhas e dos panos foi feita por voluntários envolvendo instituições sociais parceiras da associação Entrajuda.
Outras formas de reutilização deste material são a produção de mantas, resguardos, sacos, camisolas, almofadas, ponchos e outros objetos.
“A entusiástica colaboração destes hospitais permitiu que o projeto ‘Second Chance’ recolhesse duas toneladas deste plástico ao longo dos primeiros seis meses, que está a ser transformado em pellets (bolinhas de plástico de menos de 5 mm de diâmetro usadas na produção de produtos de plástico) para fazer copos, arrastadeiras, material que pode ser devolvido aos hospitais”, salientou Queiroz e Melo.
O desejo do cirurgião que realizou o primeiro transplante cardíaco em Portugal é que o projeto se alastre aos hospitais de todo o país, porque se poderia poupar entre 80 a 100 toneladas de plástico.
Apesar de ser perfeitamente seguro reciclar este plástico esterilizado, denominado ‘blue wrap’, para a produção de outros produtos, incluindo equipamentos hospitalares, como acontece em muito países, esta prática é atualmente proibida em Portugal por ser considerado lixo contaminado e como tal imediatamente descartado.
O Conselho Português para a Saúde e Ambiente diz que esta “legislação é obsoleta” e apela aos decisores políticos para que levem a cabo “uma urgente revisão desta lei de resíduos hospitalares e de outras leis que são um obstáculo à sustentabilidade ambiental do setor da saúde”.
Estima que os hospitais em Portugal sejam responsáveis por lançar ao lixo mais de 100 toneladas deste plástico, anualmente, com consequências ao nível do aumento do desperdício, da poluição e dos custos inerentes à recolha e eliminação deste material, que é geralmente descontaminado por autoclavagem e vai para aterro.
O setor da saúde é responsável, em Portugal, por cerca de 4,8% das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) e por uma considerável quantidade de resíduos.
O CPSA, que reúne 80 organizações, defende que a redução desta pegada ecológica exige uma estratégia nacional, a elaboração e implementação de normas de sustentabilidade ambiental a todos os níveis, a promoção da telemedicina e cuidados de proximidade, como forma de reduzir os trajetos das pessoas.
Defende igualmente a definição de metas claras para o sistema de saúde que visem zero emissões em 2035 em tudo o que dependa diretamente do sistema de saúde e em 2040 para o que dependa indiretamente.
LUSA/HN
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