Brasileiras voltam às ruas contra proposta para equiparar aborto a homicídio

16 de Junho 2024

Centenas de mulheres brasileiras voltaram a sair às ruas de São Paulo para protestar contra um projeto de lei para restringir o aborto, que após as 22 semanas seria tratado como homicídio.

Foi a segunda manifestação em três dias na cidade contra a proposta, que estabeleceria penas semelhantes às previstas para o crime de homicídio para a interrupção de gravidez depois de 22 semanas, mesmo em caso de violação.

Tal como na quinta-feira, 50 instituições e grupos feministas reuniram-se na Avenida Paulista, uma das principais artérias de São Paulo, e percorreram o centro da maior cidade do Brasil.

Vestidas com lenços verdes, as manifestantes gritaram contra Arthur Lira, o presidente da Câmara dos Deputados brasileira, que na quinta-feira aprovou debater em regime de urgência a proposta.

O caráter de urgência do debate, aprovado pela maioria conservadora da câmara baixa do parlamento, vai permitir que o projeto de lei tramite mais rapidamente e siga diretamente para o plenário da câmara dos deputados.

O grito mais repetido no protesto de sábado, e que se tinha repetido nas manifestações de quinta-feira, foi “Criança não é mãe”, para denunciar o elevado índice de gravidez na adolescência.

De acordo com dados do sistema público de saúde brasileiro, a cada hora nascem 44 bebés de mães adolescentes no Brasil, dos quais dois são de gestantes entre 10 e 14 anos.

Também no sábado, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva qualificou como loucura o projeto de lei e condenou “a punição a uma mulher vítima de violação com uma pena maior do que o criminoso que comete a violação”, como propõe o projeto.

“Como o aborto é uma realidade, devemos tratá-lo como uma questão de saúde pública”, disse o chefe de Estado brasileiro.

Lira disse ao jornal O Globo que o projeto será modificado para preservar os casos já protegidos por lei e que, apesar do caráter de urgência, “será amplamente debatido” pelos deputados, dos quais apenas 17,7% são mulheres.

No Brasil, de acordo com a legislação atual, o aborto só é legal em casos de violação, risco de morte para a mãe ou em caso de o feto ser anencéfalo (malformação do sistema nervoso central em que há ausência parcial do cérebro).

A proposta de alteração ao Código Civil foi apresentada pelo deputado Sóstenes Cavalcante, do Partido Liberal (direita conservadora), do ex-presidente Jair Bolsonaro, e conta com o apoio das influentes igrejas evangélicas.

De acordo com o projeto, se o aborto for realizado após 22 semanas de gestação, será considerado “homicídio simples”, para o qual a lei prevê penas que variam entre seis e 20 anos de prisão.

A proposta argumenta que essa classificação deve ser aplicada mesmo nos casos em que a gravidez é resultado de violação, o que gerou uma onda de protestos de alguns setores da esquerda brasileira.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Hospital de Évora ganha especialidade de Cirurgia Maxilofacial

O Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE), integrado na Unidade Local de Saúde do Alentejo Central (ULSAC), conta, desde meados deste mês, com a especialidade de Cirurgia Maxilofacial na sua carteira de serviços, foi hoje anunciado.

Relatório de saúde STADA 2024: sistemas de saúde na Europa precisam de reformas urgentes

Os sistemas de saúde europeus estão em crise e necessitam de uma reforma urgente, revela o Relatório de Saúde da STADA 2024. Este inquérito representativo, que envolveu cerca de 46.000 entrevistados em 23 países europeus, destaca que os sistemas de saúde não conseguem atender adequadamente às necessidades de muitos europeus, levando-os a assumir a responsabilidade pela sua própria saúde.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights