No estudo, publicado na revista Nature Ecology and Evolution, os investigadores sequenciaram o genoma de quase 300 coelhos e descobriram que “o sucesso” para os coelhos passarem de animais de estimação dóceis a invasores se prende com a existência de uma componente genética selvagem.
“Alguns animais domésticos mudaram tanto desde os seus antepassados selvagens que é difícil adivinhar um parentesco, como os chihuahuas que descendem de lobos”, indica, citado no comunicado, o investigador Pedro Andrade.
Apesar destas mudanças serem drásticas, há animais domésticos que conseguem superar o desafio de regressar à natureza e sobreviver.
“Quando o fazem, chamamos-lhes ferais, populações de uma espécie outrora doméstica que se readaptou com sucesso ao meio selvagem. Os coelhos são um exemplo clássico”, salienta.
Para perceber como é que os coelhos estabelecem populações ferais, os investigadores sequenciaram o genoma de quase 300 coelhos, incluindo seis populações ferais de três continentes (Europa, América do Sul e Oceânica), bem como coelhos domésticos e selvagens no sudoeste da Europa.
“Os coelhos domésticos são tão comuns que a nossa expectativa era que estas populações ferais fossem compostas por coelhos domésticos que se readaptaram ao meio selvagem, mas as nossas descobertas apontam para um cenário mais complexo”, observa outro autor do estudo, Miguel Carneiro.
Apesar de analisadas seis colonizações independentes, todos os coelhos ferais “partilham uma origem mista, doméstica e selvagem”.
Os investigadores descobriram que nas readaptações ao meio selvagem as variantes genéticas associadas à domesticação são muitas vezes eliminadas “porque estas características acabam por ser deletérias no meio selvagem tornando os animais mais vulneráveis à predação”.
“Nestas populações não vemos coelhos totalmente brancos ou pretos, apesar destas cores serem muito comuns nos coelhos domésticos, porque são cores que saltam à vista aos predadores”, afirma o professor da Universidade de Uppsala, Leif Andersson, acrescentando que a mutação causa uma diluição da cor do pelo.
A eliminação de características domésticas não se restringe à cor do pelo, tendo a equipa encontrado evidências de seleção natural em genes ligados ao comportamento e desenvolvimento do sistema nervoso.
“A docilidade é crucial para os animais domésticos viverem perto das pessoas, mas não ajudará um coelho que volte ao meio selvagem a sobreviver, por isso a seleção natural remove as variantes genéticas ligadas a estes comportamentos”, explica Pedro Andrade.
No comunicado, o investigador Miguel Carneiro acrescenta ainda que a melhor estratégia para mitigar o impacto destas espécies “é impedir que sejam introduzidas logo de início”.
“Por isso esperamos que o nosso estudo forneça evidências importantes para ajudar a avaliar e identificar futuros riscos de invasão” conclui.
LUSA/HN
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