Em declarações à Lusa, o coordenador do estudo, o professor Ricardo Ferreira Reis, afirmou que está a decorrer na economia “uma revolução idêntica à de há 150 anos” e que Portugal não se pode atrasar. Para isso, defendeu, tem de “ser convocado o capital privado”, que deve usar o mercado de capitais para obter financiamento.
O economista considerou que, se as empresas usarem a bolsa para financiar projetos com impacto social, mais facilmente pequenos aforradores investem atraídos pela “proximidade ao investimento”, porque veem o resultado do seu investimento no seu país, na sua comunidade.
“Devem ser convocadas empresas cotadas em bolsa ou que possam vir a estar cotadas para prossecução de políticas públicas”, disse à Lusa.
Ricardo Ferreira Reis destacou a saúde e a energia como áreas fundamentais para a atração de capital, considerando que para isso seria benéfico aos privados usarem o mercado de capitais para obter financiamento.
O estudo indica que o mercado da saúde (hospitais, farmacêuticas, saúde animal, etc.) é muito fragmentado e apresenta oportunidades de consolidação.
Em 2022, no setor da saúde, a empresa média tinha menos de quatro funcionários e um volume de negócios anual de 338 mil euros e as grandes empresas, com mais de 250 funcionários ou volume de negócios acima de 50 milhões de euros, representavam 0,2% do total ainda que atingissem 34% do volume de negócios e 25% do emprego.
Na transformação energética, considerou o economista que nesta área “Portugal tem empresas de enorme sucesso, de vanguarda”, e que deve continuar a haver investimento para manter essa posição.
O documento destaca oportunidades de investimento em leilões de energia eólica ‘offshore’, parques eólicos e solares, infraestrutura pública de carregamento de veículos elétricos, interconectividade de gás natural com o resto da Europa e projetos de dessalinização e eficiência hídrica.
O estudo elenca ainda oportunidades de investimento na renovação de infraestruturas (rodovias, ferrovia, aeroportos, novas soluções de mobilidade), no turismo e nos setores agrícola e florestal.
Na conversa com a Lusa, Ricardo Ferreira Reis defendeu ainda grandes investimentos na habitação, considerando que “a construção já existe e o que é preciso é reabilitação” e que aí seriam importantes parcerias entre privados e Estado no aproveitamento de parque habitacional sem uso.
O estudo, denominado “Structural Trends Shaping Portugal’s Economy and Growth”, é hoje apresentado na conferência “Invest in Portugal – Insights on an Economy in Transformation”, no Centro de Congressos de Lisboa. o evento é organizado pela Euronext, a empresa gestora da bolsa de Lisboa, que tem levado a cabo ações para promover o mercado de capitais português.
Nas últimas duas décadas o mercado de capitais português perdeu fôlego, visível na saída de empresas da bolsa. O colapso do Grupo Espírito Santo e o desmantelamento da Portugal Telecom significou um importante rombo. Atualmente o PSI, o principal índice da bolsa portuguesa, tem 16 empresas.
Na semana passada, o Presidente da República promulgou a lei que atribui benefícios fiscais a investimentos no mercado de capitais, numa tentativa do Governo de dinamizar este mercado, mas também uma obrigação europeia no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
LUSA/HN
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