UTAD já forma 50 moçambicanos mas quer mais de 200

22 de Julho 2024

Cerca de 50 alunos moçambicanos frequentam atualmente a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em Portugal, e quando os primeiros formados entram no mercado de trabalho a instituição já pensa em ultrapassar os 200.

“Se daqui por três anos tivermos 200, 250 estudantes moçambicanos é um número realista, é um número aceitável e é um número credível para os dois lados. Sobretudo em áreas de ciências agrárias, veterinária, ciências da engenharia e, na linguística, obviamente, e na cultura”, afirmou, em entrevista à Lusa, em Maputo, o reitor da UTAD, de Vila Real, Emídio Gomes.

A perspetiva é traçada depois de reuniões com o Governo moçambicano e universidades moçambicanas, durante uma visita de trabalho de uma semana que decorre desde 17 de julho: “de repente, dizia-me o ministro, nós podemos quase ter os alunos que quisermos”.

“Mas o que nós sentimos é que, sobretudo em áreas que Moçambique procura crescer, no domínio da agronomia, zootecnia e da veterinária, há um grande potencial”, acrescentou.

Nestas reuniões, a UTAD já foi desafiada pelo Ministério da Ciência e do Ensino Superior para um projeto concreto de formação na área da produção animal e da zootécnica: “Aqui, nesta zona mais sul do país, e pediu-nos se nós aceitávamos um lote de alunos moçambicanos para formarmos neste domínio”.

Por outro lado, aquela universidade está a intensificar a cooperação com as universidades moçambicanas Eduardo Mondlane e Pedagógica, desde logo “na parte da agronomia e veterinária”, que “é provavelmente” o setor em que a instituição mais prevê crescer.

“A nossa relação com Moçambique é bastante recente, mas ela frutifica de uma forma muito rápida”, explicou o reitor, reconhecendo que a procura de estudantes moçambicanos pela UTAD regista-se sobretudo após a pandemia de covid-19, com os primeiros licenciados a chegarem recentemente ao mercado de trabalho.

Atualmente, entre os mais de 9.000 estudantes que frequentam cerca de uma centena de cursos de licenciatura, mestrados ou doutoramentos na UTAD, 1.100 são internacionais e, destes, 600 são dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), incluindo 50 de Moçambique.

No sentido inverso, a UTAD já tem um acordo com a Universidade Eduardo Mondlane, no domínio das Ciências Veterinárias, prevendo “que muita da formação decorra em Moçambique”.

“Nos programas doutorais, os nossos acordos preveem que toda a parte experimental decorra em Moçambique. Nós damos o grau, o estudante de doutoramento pode ir lá pequenas temporadas, mas o nosso objetivo é capacitar e ajudar que o gigantesco potencial que nós encontramos neste fantástico país de língua portuguesa seja cada vez maior e quanto mais desenvolvido e mais rico for Moçambique, mais felizes nós estaremos de dar o contributo para isso”, reconheceu o reitor.

Acrescentou que após contactos com as universidades moçambicanas está igualmente em cima da mesa deslocar professores da UTAD para apoiar a formação e novos cursos em Moçambique, sobretudo ao nível de mestrado e doutoramento.

Mateus Machanguana, 32 anos, frequentou a UTAD de 2022 a 14 de junho de 2024, quando defendeu a tese de mestrado em engenharia ambiental, regressando no dia seguinte a Maputo. Hoje é também um dos cerca de 40 embaixadores Alumni UTAD, de 27 nacionalidades diferentes, enquanto já trabalha como técnico da Administração de Infraestruturas de Águas e Saneamento, do Ministério das Obras Públicas moçambicano.

Garante que a formação universitária em Portugal, com especialização em saneamento, foi decisiva para as funções que hoje desempenha: “Foi tão decisivo que já estou inscrito ao curso de doutoramento [da UTAD]”.

Machanguana é ainda representante dos estudantes internacionais na UTAD e garante que os cerca de 50 moçambicanos que estudam naquela universidade no norte de Portugal estão bem integrados e assumem o objetivo de aplicar os conhecimentos em Moçambique.

“Têm gostado. Naturalmente que há sempre dificuldades (…) quando saímos dos nossos países, tropicais, para países como Portugal e depois quando vamos lá mais para o norte, o frio intenso a que não estamos habituados, até porque para nós o frio é de 20° e depois vamos apanhar temperaturas negativas. Mas em termos académicos é uma experiência inédita e que todos nós agradecemos sempre porque aprendemos muito”, garantiu.

LUSA/HN

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