“A RM não é uma ferramenta perfeita para detetar o cancro da próstata, mas reconhecer as suas limitações pode ajudar a superá las. Identificar por que alguns tipos de cancro da próstata não são visíveis na RM ou variantes normais que simulam malignidade permite uma melhor gestão do cancro da próstata com um conhecimento ótimo da técnica de RM.” Em entrevista ao nosso jornal, o Dr. Kai Vilanova, Diretor do Instituto de Ressonância Magnética da Clínica Girona, aborda a sua própria experiência na área da Ressonância Magnética da próstata e os principais desafios que os profissionais de saúde enfrentam na prática clínica na identificação, através desta técnica imagiológica, do cancro da próstata.

Pode-nos descrever, de forma sucinta, o ser percurso profissional e a sua ligação com a ressonância magnética (RM)?

Sou Doutor em Medicina e especialista em Radiologia desde 1993. Completei uma bolsa de estudos no Armed Forces Institute of Pathology (AFIP) em Washington, D.C., onde me formei nos princípios da RM. Tornei-me radiologista no Instituto de RM em Barcelona, Espanha, que foi o centro clínico pioneiro a instalar uma RM em Espanha em 1984. Por esta razão, tive a oportunidade de ingressar na carreira especializada em ressonância magnética desde o início.

O que o motivou a especializar-se em radiologia, particularmente na ressonância magnética?

Quando terminei a minha licenciatura em medicina, tive de escolher uma especialidade. Naquela época, a tecnologia de RM estava a começar a emergir em Espanha, o que me motivou a seguir uma especialização em imagiologia médica. Foi há 25 anos que comecei a realizar os primeiros exames de RM da próstata. Tornei[1]me num pioneiro da RM da próstata em Espanha e, há quatro anos, realizei a primeira biópsia prostática alvo por RM no país, utilizando um dispositivo robótico.

Quais são os principais tópicos que serão abordados nos cursos pré-congresso que irá ministrar na Clínica Girassol?

Os principais tópicos no Congresso em Luanda serão: Técnica de RM da próstata, incluindo a anatomia; como ler a RM da próstata de acordo com as diretrizes atuais do PI-RADS (sistema de graduação da probabilidade de uma lesão, identificada na ressonância multiparamétrica de próstata, ser um cancro clinicamente significativo), reconhecer possíveis armadilhas e truques na RM da próstata, compreender as limitações da RM da próstata, realizar uma estadiamento preciso do cancro da próstata usando RM, avaliar a RM da próstata para seguimento após o tratamento do cancro da próstata e como realizar uma biópsia prostática alvo por RM.

Nas sessões práticas de casos, chamadas “Mãos à Obra”, quais são os principais objetivos e como contribuem para a formação dos profissionais de saúde em Angola?

Os objetivos das sessões práticas são adquirir conhecimento por imersão num ambiente de aprendizagem para ler a RM da próstata. Tornar-se familiar e sentir[1]se confiante com a RM básica e inicial avançada do cancro da próstata, tal como encontrado na prática diária. Discriminar variantes comuns da patologia para evitar armadilhas e aprender a construir um relatório adequado através de relatórios estruturados.

O que podem os participantes esperar das sessões práticas de estudo de casos clínicos e quais são os principais desafios que os profissionais enfrentam na interpretação dos exames de RM?

Os participantes trabalharão em casos clínicos reais, o que proporciona uma compreensão prática da RM da próstata. Podem fazer perguntas em tempo real. Os profissionais compreenderão a anatomia normal da próstata e identificarão as alterações patológicas associadas ao cancro da próstata. Serão treinados para diferenciar entre lesões benignas e malignas. Os participantes melhorarão a sua proficiência na interpretação dos exames de RM da próstata e, consequentemente, melhorarão os resultados dos cuidados aos pacientes.

Importância da Ressonância Magnética: Qual é a importância da ressonância magnética no diagnóstico e na avaliação da progressão da doença no cancro da próstata, especialmente no contexto de um país como Angola?

Sabemos que o cancro da próstata é o cancro mais comum nos homens, com uma maior incidência em África. Há uma necessidade de detetar o cancro da próstata precocemente. Atualmente, a técnica mais útil para detetar o cancro da próstata é a RM. Por esta razão, é essencial que os médicos tenham experiência em ler e avaliar a RM da próstata para alcançar melhores resultados para os pacientes com cancro da próstata.

Mencionou anteriormente as limitações da ressonância magnética. Poderia explicar quais são essas limitações e como os profissionais podem superá-las?

A RM não é uma ferramenta perfeita para detetar o cancro da próstata, mas reconhecer as suas limitações pode ajudar a superá-las. Identificar por que alguns tipos de cancro da próstata não são visíveis na RM ou variantes normais que simulam malignidade permite uma melhor gestão do cancro da próstata com um conhecimento ótimo da técnica de RM.

O futuro da RM e inovações: Como vê o futuro da ressonância magnética e que inovações tecnológicas e/ou metodológicas estão a emergir nesta área?

O futuro da RM é melhorar a qualidade da técnica, combinada com a incorporação de software com inteligência artificial que pode permitir detetar o cancro da próstata mais cedo e com maior precisão.

Que mensagem gostaria de transmitir aos profissionais de saúde que participam nos seus cursos e ao público em geral sobre a ressonância magnética?

Este curso irá elevar as competências na RM da próstata, proporcionando o conhecimento e a experiência necessários para melhorar os cuidados aos pacientes. Os profissionais estarão mais confiantes, o que se traduzirá em melhores resultados de saúde para a comunidade. Conclusão: Há algo mais que gostaria de acrescentar sobre a sua participação no congresso ou sobre a ressonância magnética que não tenhamos abordado? O curso garante um ambiente de aprendizagem para aprimorar e fortalecer o conhecimento na leitura estruturada de RM da próstata. Este curso é um passo importante para avançar a proficiência dos profissionais de saúde em RM da próstata, contribuindo para melhores resultados de diagnóstico e cuidados aos pacientes