Êxodo de sudaneses para a Líbia sobrecarrega sistema de saúde

31 de Agosto 2024

O município de Kufra, no sudeste da Líbia, apelou às organizações internacionais para acelerarem o fornecimento de apoio, a fim de responder às necessidades dos refugiados sudaneses que fogem aleatoriamente para a cidade através da fronteira Líbia-Sudão.

A cidade, com uma população de 60 mil habitantes, está a enfrentar dificuldades em prestar serviços aos deslocados devido ao aumento do seu número, na sequência da escalada da guerra no Sudão desde abril de 2023. Kufra é o principal destino dos deslocados sudaneses que se dirigem para a Líbia, especialmente vindos de Darfur, sendo a única cidade que ocupa o sudeste do país.

Até 1 de julho, o ACNUR registou mais de 40 mil refugiados sudaneses que fugiram para a Líbia desde o início do conflito no Sudão. Estima-se que um número muito maior tenha chegado ao leste do país. Com o contínuo fluxo de refugiados, especialmente com a intensificação dos combates na região de Darfur, os serviços locais em todo o país estão sob forte pressão.

Segundo Abdel Rahman Agoub, presidente da câmara municipal de Kufra, os números das agências internacionais não são precisos nem atualizados, pois estas não trabalham no terreno. “De acordo com a última estimativa do comité de recenseamento do Ministério da Saúde, o número de deslocados sudaneses na cidade varia entre 65 e 70 mil, superior à própria população da cidade, enquanto cerca de 2.000 deslocados atravessam diariamente a fronteira para Kufra”, disse Agoub à SciDev.Net.

Agoub descreve as condições dos deslocados: “Dormem ao relento ou debaixo de árvores, não têm acesso aos serviços básicos, dependem de fontes de água nas quintas e despejam os resíduos em fossas que cavaram dentro das quintas, o que constitui um ambiente fértil para a propagação de doenças e poluição das águas subterrâneas”.

“Alguns têm capacidade financeira para arrendar casas, mas a maioria não tem meios de subsistência e espalha-se pelas ruas, bairros residenciais e quintas em 53 locais identificados pelo comité de recenseamento”, explica Agoub.

Antes da crise, Kufra produzia cerca de 150 toneladas de resíduos sólidos por dia, mas com o afluxo de deslocados, “a quantidade aumentou para 280 toneladas, a ponto de as duas empresas de serviços públicos, água e saneamento serem incapazes de lidar com esta enorme quantidade de resíduos”, esclarece Agoub.

O sistema de saúde de Al Kufra, já debilitado, está agora sob enorme pressão. O único hospital da cidade, com apenas 60 camas, atingiu rapidamente a capacidade máxima ao receber vítimas de acidentes rodoviários entre os refugiados. Apesar dos esforços das autoridades para aumentar o pessoal médico, persistem receios quanto à propagação de doenças como a malária, hepatite e tuberculose.

As organizações internacionais têm tido um papel limitado no apoio a Al Kufra, com a Organização Mundial de Saúde a ser a única presença significativa no terreno. A OMS enviou clínicas móveis, forneceu ajuda médica e realizou campanhas de vacinação, mas as necessidades continuam a aumentar.

Os líbios têm sido os principais a prestar assistência, acolhendo famílias sudanesas. No entanto, os recursos e infraestruturas da cidade estão cada vez mais sobrecarregados. Sem um fim à vista para a crise, Al Kufra necessita urgentemente de mais apoio internacional para enfrentar este desafio humanitário e de saúde pública.

NR/HN

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