A administração de vacinas deve ser realizada exclusivamente por enfermeiros e, salvo situações excecionais devidamente justificadas, sempre nos cuidados de saúde primários.
Os enfermeiros possuem uma formação académica e prática muito abrangente em cuidados de saúde, que inclui não apenas conhecimentos teóricos, mas também a capacidade de executar procedimentos clínicos com rigor e segurança. Esta formação abrange várias áreas da saúde, desde a avaliação do estado de saúde até à intervenção direta e ao acompanhamento contínuo dos utentes.
Nos cuidados de saúde primários, os enfermeiros têm uma visão holística, que considera não apenas os aspetos físicos, mas também os fatores psicossociais e ambientais. Esta abordagem permite uma avaliação mais completa e contextualizada da pessoa no ato da vacinação.
Além disso, os enfermeiros estão inseridos numa estrutura que permite seguir os utentes ao longo do tempo, assegurando uma continuidade de cuidados essencial para a gestão de doenças crónicas e para a promoção da saúde. Podem educar as pessoas sobre a vacinação, esclarecer dúvidas e, com isso, promover uma melhor adesão ao processo de imunização. A presença contínua e apoio dos enfermeiros são muito importantes para garantir a confiança no sistema de saúde e prevenir complicações.
Outras estruturas, como, por exemplo, as farmácias não têm condições para proporcionar este tipo de continuidade, limitando-se muitas vezes a interações pontuais e descontextualizadas, que podem não garantir uma atuação adequada em caso de eventuais reações adversas à vacina administrada.
Por outro lado, a administração de vacinas é um procedimento que, se não for conduzido com rigor e cuidado, pode acarretar riscos. Os enfermeiros estão preparados para lidar com uma ampla variedade de situações clínicas e são capazes de identificar sinais de alerta que podem necessitar de intervenção imediata. A supervisão regular e a formação contínua a que estão sujeitos também garantem um elevado padrão de qualidade e segurança.
Nos cuidados de saúde primários, os enfermeiros têm acesso a um conjunto de ferramentas de diagnóstico e ao suporte de outros profissionais de saúde, o que lhes permite responder adequadamente a qualquer eventualidade que possa surgir no contexto da vacinação.
Na verdade, os cuidados de saúde primários promovem a interação entre diferentes profissionais de saúde, permitindo uma abordagem integrada e coordenada. Esta colaboração multidisciplinar é fundamental para a eficácia das campanhas de vacinação.
Há, ainda, a questão da oportunidade vacinal. Ou seja, o momento adequado em que uma pessoa deve ser vacinada, levando em consideração fatores como, por exemplo, a idade, o estado de saúde e o calendário vacinal recomendado. No fundo, trata-se de garantir que as vacinas são administradas no período em que proporcionam a melhor proteção imunológica. Perder uma oportunidade vacinal, pode significar uma exposição a riscos desnecessários. Naturalmente, a efetiva aplicação deste importante princípio só é possível se a vacinação for administrada por enfermeiros, no contexto adequado.
A administração de vacinas nas farmácias, por outro lado, ocorre num ambiente mais isolado, sem as mesmas oportunidades para a colaboração interprofissional e partilha de conhecimentos, o que pode comprometer a capacidade de resposta em situações mais complexas.
Acresce que, nas farmácias, a prática da vacinação pode estar sujeita a conflitos de interesse, uma vez que o serviço pode influenciar diretamente as vendas de produtos e serviços oferecidos pela própria farmácia. Esta situação pode comprometer a objetividade e a imparcialidade, levantando questões éticas relevantes.
A deontologia profissional dos enfermeiros coloca uma ênfase na proteção e promoção da saúde das pessoas, assegurando que todas as ações são realizadas no seu melhor interesse. Este compromisso ético reflete-se na administração de vacinas com o máximo rigor e profissionalismo.
Aliás, ninguém entenderia se, agora, os enfermeiros, por conveniência de serviço ou outro motivo, passassem a vender e a dispensar medicamentos.
A confiança das pessoas nos profissionais de saúde é uma componente essencial para a eficácia de qualquer intervenção de saúde. Os enfermeiros, devido à sua formação, experiência e compromisso ético, gozam de um elevado nível de confiança junto do público. A prática da vacinação em farmácias, especialmente quando realizada por farmacêuticos com formação limitada nesta área, não inspira a mesma confiança, podendo reduzir a adesão das pessoas à vacinação.
A este propósito, basta recordar o que sucedeu com a vacinação da Covid-19 e da gripe nas farmácias no inverno passado, onde surgiram diversas questões sobre a eficácia e a segurança do processo.
Por fim, partindo do pressuposto que as farmácias são financiadas pelo Estado para realizar a vacinação, não se afigura como racional esse financiamento público quando é preciso investir com urgência nos cuidados de saúde primários, onde já se realiza a vacinação com bastante sucesso. Portugal é campeão de vacinação, graças ao trabalho dos enfermeiros. E, como se costuma dizer na gíria desportiva, em equipa que ganha não se mexe.
Sr. Bastonário: é minha convicção que foi a inação quer da Ordem em primeiro lugar, quer das associações profissionais e dos próprios sindicatos que levaram a este estado. Não bastam comunicados para o ministério da saúde, governo e comunicação social a manifestar o nosso descontentemento. É preciso acção e essa fica infelizmente na gaveta… Sabe quem ministra as vacinas nas farmácias? Posso garantir-lhe que não são os farmaceuticos….