Um estudo recente, realizado pela Aliança para o Cancro do Pulmão, confirma que o rastreio do cancro do pulmão em Portugal é um investimento custo-efetivo que pode salvar milhares de vidas. Esta análise surge num momento em que o cancro do pulmão se afirma como a principal causa de morte por cancro no país, ceifando diariamente cerca de 14 vidas.
A Aliança para o Cancro do Pulmão, composta por sete entidades dedicadas a combater esta doença, adaptou localmente um modelo de custo-efetividade baseado no protocolo de investigação e nos resultados do programa NELSON, o maior estudo europeu sobre o rastreio do cancro do pulmão. O estudo NELSON demonstrou um potencial de redução da mortalidade em 25% numa população de alto risco após rastreio.
Os resultados da análise portuguesa são promissores: a implementação de um programa de rastreio poderia evitar 13.271 mortes por cancro do pulmão num horizonte temporal de 40 anos. Além disso, o rastreio não só aumenta a taxa de sobrevivência como também reduz os custos associados aos tratamentos mais avançados.
O Professor Rui Medeiros, um dos autores do estudo e membro da Direção da Liga Portuguesa Contra o Cancro NRNorte, destaca a importância destes resultados. Ele enfatiza que a prevenção do cancro do pulmão, combinando a redução do consumo de tabaco e a implementação do rastreio, pode ter um impacto significativo na redução do número de casos e mortes, além de contribuir para a sustentabilidade do Sistema Nacional de Saúde.
O Professor António Araújo, Diretor do Serviço de Oncologia Médica na ULS Santo António, reforça que o rastreio do cancro do pulmão de base populacional é um método comprovado que permite o diagnóstico precoce e salva vidas. Ele apela à implementação urgente de um projeto piloto em Portugal.
Os especialistas envolvidos no estudo concluem que o rastreio do cancro do pulmão em Portugal deve ser a opção preferencial para o diagnóstico de doentes com cancro do pulmão na população de alto risco, em comparação com o percurso clínico atual. Eles sublinham que os resultados fornecem aos decisores informações que suportam a implementação de um programa de rastreio.
É importante notar que o impacto económico atribuído ao cancro do pulmão de células não-pequenas, o subtipo mais frequente, ascendeu a 143 milhões de euros em 2012, representando aproximadamente 0,09% do PIB português e 0,92% do total das despesas com a saúde. Nos últimos anos, a introdução de tratamentos inovadores tem melhorado a qualidade de vida e as taxas de sobrevivência dos doentes, mas também tem contribuído para o aumento dos custos de saúde.
O Professor Venceslau Hespanhol, Pneumologista no Hospital CUF Porto, enfatiza que desde 2011 é claro que o rastreio do cancro do pulmão em indivíduos de alto risco reduz a mortalidade em pelo menos 20%. Ele acrescenta que a União Europeia, desde 2022, considera necessário iniciar o rastreio do cancro do pulmão na Europa. O estudo agora publicado prova que o rastreio é custo-efetivo em Portugal, cria valor em saúde e a sua implementação necessita de apenas um terço dos custos considerados aceitáveis pela OMS para os rastreios.
PR/HN/MMM
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