Ana Catarina Pinheiro
MGF
Hospital da Luz

Assaduras: o que fazer

2 de Novembro 2024

A pele humana é continuamente exposta a forças dinâmicas internas e externas, bem como estáticas. A pele é normalmente flexível e pode resistir a traumas mecânicos num grau considerável. No entanto, estas forças, quando exercidas de forma excessiva, podem afetar a estrutura e função da pele, levando ao aparecimento de lesões cutâneas.

As “assaduras” ou dermatoses friccionais são lesões pouco reconhecidas e sem definição clara; contudo, podemos considerá-las como um grupo de alterações causadas por trauma repetido na pele como resultado de uma fricção de etiologia variada. As assaduras podem ter uma ampla gama de manifestações cutâneas, dependendo do tipo de agressão.

A fricção é o atrito de uma superfície sobre a outra ou a força que resiste ao movimento entre dois corpos. A manifestação de lesão cutânea secundária ao atrito depende do tipo de atrito (estático ou dinâmico), da intensidade da força (baixa ou alta) e da natureza da superfície, e pode apresentar-se clinicamente como liquenificação, hiperpigmentação, eritema, descamação, fissuras, bolhas, ulceração e alterações crónicas. O coeficiente de atrito depende do tipo de superfície, do teor de humidade, região anatómica e do tipo de tecido que cobre a pele (por exe. pele-pele ou pele-calçado/peça de roupa).

A presença de humidade como o suor, urina e oclusão aumenta o coeficiente de atrito. Assim, algumas áreas anatómicas, nomeadamente áreas flexoras e intertriginosas (região inguinal, glútea e axilar, face interna das coxas e prega cutânea inframamária), são mais propícias ao desenvolvimento de lesões secundárias a um fenómeno de fricção/atrito. O tipo e a estrutura dos têxteis podem também ter um impacto considerável no tipo de forças de atrito, bem como na hidratação da pele. Os tecidos mais comummente associados a dermatoses incluem nylon e lã.

O atrito não só causa novas dermatoses nos indivíduos, mas também pode agravar as pré-existentes. A suscetibilidade da pele de um indivíduo ao atrito difere e é influenciada por fatores extrínsecos e intrínsecos, como a presença de doenças pré-existentes e diferenças genéticas ou raciais.

A prática desportiva envolve exposição a vários fatores, como traumas, exposição prolongada ao sol, infeções e atrito, aumentando assim a propensão a uma variedade de problemas cutâneos, nomeadamente “assaduras”.

Os princípios do tratamento incluem fornecer alívio sintomático, determinar a etiologia mecânica, tratar a lesão e prevenir futuras recorrências. É recomendada a utilização de roupas leves, respiráveis e de tecidos que absorvam humidade em detrimento da utilização de tecidos sintéticos e roupas apertadas. A roupa deve ser adaptada a cada modalidade desportiva, visando conforto e ventilação. No que respeita ao calçado, de forma a prevenir “assaduras”, devem ser utilizados sapatos bem ajustados, respiráveis e com meias antiatrito de forma a evitar irritações. Além disso, vários dispositivos de alívio de pressão (por exemplo, calçados com palmilhas almofadadas, placas de silicone e cremes barreira) são ferramentas eficazes para proteger o estrato córneo. Agentes tópicos como queratolíticos, humectantes e emolientes ajudam a diminuir a hiperqueratose a regular a proliferação epidérmica e a diminuir a perda de humidade mantendo a pele hidratada. Fazer pausas frequentes e remover o excesso de suor pode igualmente facilitar o alívio de dermatoses friccionais. Em situações de ausência de resposta ao tratamento conservador, podem ser utilizados corticosteroides tópicos.

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