Uma investigação revolucionária publicada na revista Biological Psychiatry demonstrou que a meditação mindfulness utiliza mecanismos cerebrais únicos, diferentes do efeito placebo, para reduzir a dor. O estudo, realizado com 115 participantes saudáveis, vem contrariar a ideia estabelecida de que esta prática milenar funcionaria principalmente através do efeito placebo.
A investigação dividiu-se em dois ensaios clínicos, nos quais os participantes foram distribuídos aleatoriamente por quatro grupos de intervenção: meditação mindfulness focada na respiração sem julgamento, meditação simulada apenas com respiração profunda, aplicação de um creme placebo (vaselina) apresentado como analgésico, e um grupo de controlo que ouviu um audiolivro.
Durante as experiências, os investigadores aplicaram um estímulo térmico doloroso, mas inofensivo, na parte posterior da perna dos participantes, monitorizando simultaneamente a atividade cerebral através de ressonância magnética funcional. Para análise dos padrões cerebrais, utilizaram uma nova abordagem denominada análise multivariada de padrões, que recorre a aprendizagem automática para descodificar os complexos mecanismos neurais subjacentes à experiência da dor.
Os resultados revelaram que, embora tanto o creme placebo como a meditação simulada tenham reduzido a dor, a meditação mindfulness foi significativamente mais eficaz que todas as outras intervenções. Mais importante ainda, descobriu-se que esta prática reduz a sincronização entre áreas cerebrais envolvidas na introspeção, autoconsciência e regulação emocional, que compõem o Sinal Neural da Dor (NPS).
Em contraste, o creme placebo e a meditação simulada não demonstraram alterações significativas no NPS em comparação com o grupo de controlo, ativando mecanismos cerebrais completamente distintos e com pouca sobreposição.
Esta descoberta tem implicações significativas para o desenvolvimento de novos tratamentos para a dor crónica, uma vez que na medicina moderna as novas terapias são consideradas eficazes quando superam o efeito placebo. No entanto, os investigadores salientam a necessidade de mais estudos com pessoas que sofrem de dor crónica para confirmar estes resultados.
NR/HN/Alphagalileo
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