Maria João Toscano: Programa abem poupa 29 milhões ao SNS em urgências evitadas

11/09/2024
O Programa abem: que garante acesso gratuito a medicamentos prescritos para pessoas em situação de pobreza, gerou uma poupança de 29 milhões de euros ao SNS em episódios de urgência e internamentos evitados. Em entrevista exclusiva ao Healthnews, a diretora executiva da Dignitude revela o impacto económico, social e ambiental da iniciativa

Healthnews (HN) – Qual é a metodologia utilizada para calcular a poupança de 29 milhões de euros ao SNS em episódios de urgência e internamentos evitados graças ao Programa abem?

Maria João Toscano (MJT) – Para calcular os custos potencialmente evitados no âmbito do Serviço Nacional de Saúde foram estimados os episódios de urgência e internamentos evitados pelo facto dos beneficiários terem acesso ao cartão e assim cumprirem a sua medicação.

Para estes cálculos foram consideradas apenas as 4 especialidades que correspondem aos medicamentos mais utilizados pelos beneficiários abem (sistema nervoso, aparelho cardiovascular, aparelho digestivo e metabolismo e aparelho respiratório), sendo aplicados os custos hospitalares publicados na plataforma onevalue.org.

O princípio base desta análise passa por validar que a existência do programa permite evitar que os beneficiários cujo estado de saúde antes de terem o cartão era considerado mau tenham que recorrer a diferentes serviços de saúde, representando poupanças muito significativas para o SNS.

HN – Como se chegou à conclusão de que por cada milhão de euros investido no Programa abem existe uma poupança potencial de 5,4 milhões de euros para o SNS? Que fatores são considerados neste cálculo?

MJT – Sabemos que em 2022 10% dos portugueses que tomaram medicamentos prescritos (89%) optaram por não comprar algum dos medicamentos devido ao seu custo (Índice de Saúde Sustentável 2022, Abbvie/Nova IMS, 2023). Isto significa que existem cerca de 920 mil pessoas que todos os anos em Portugal deixam de comprar os medicamentos de que precisam por não os conseguirem pagar, e que a poupança potencial correspondente a este número de beneficiários seria de mais de 772 milhões de euros.

Considerando as comparticipações de 2023, sabemos que para chegar a todos estes beneficiários que atualmente não conseguem comprar os medicamentos de que precisam, seria necessário um investimento de cerca de 142 milhões de euros.

Concluímos assim que com um investi mento se 142.008.475,37€ existiria uma poupança potencial de 772.174.845,08€, ou seja, por cada milhão de euros investido no programa abem existe um potencial de poupança de 5,4 milhões de euros.

HN – Considerando que uma em cada dez pessoas não compra os medicamentos prescritos por falta de recursos financeiros, quais são os principais obstáculos para expandir o Programa abem de modo a alcançar essas 920 mil pessoas em Portugal?

MJT – Infelizmente, o principal obstáculo à expansão deste projeto social para todos os que precisam é o investimento financeiro necessário para tal.

100% dos donativos realizados ao Programa abem são apenas utilizados para comparticipar medicamentos aos beneficiários abem.

Quanto mais donativos angariarmos, mais pessoas iremos conseguir ajudar. Todos podem ajudar via MB WAY, para o número 932 440 068 ou por transferência bancária, para o IBAN: PT50 0036 0000 9910 5914 8992 7.

HN – Que medidas concretas estão a ser consideradas para aumentar o alcance e a eficácia do Programa abem à luz destes resultados positivos?

MJT – Neste momento, estamos a criar novas parcerias com Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia, Instituições Particulares de Solidariedade Social, Cáritas e Misericórdias. Estas novas parcerias permitem dinamizar o Programa abem: em novas regiões do país e chegar a mais pessoas.

HN – Como foi realizada a avaliação do impacto ambiental do Programa abem? Podem detalhar o processo de cálculo das emissões de CO2 evitadas?

MJT – Considera-se que o Programa abem contribui para a redução de emissões do âmbito 3 ao reduzir o número de deslocações de pacientes ao hospital, e indiretamente nos âmbitos 1 e 2 ao evitar a utilização de diversos recursos associados a episódios de urgência e internamento (estas emissões de âmbito 1 e 2 não foram calculadas para efeito da presente análise).

Considerou-se ainda o contributo associado à redução de deslocações relacionadas com a operação da Dignitude. Para calcular as emissões evitadas e o contributo do programa abem para a redução da pegada do sistema de saúde, foram assim calculadas as emissões evitadas por beneficiário, ao diminuir o número de deslocações dos beneficiários aos hospitais (estimadas num total de mais de 374 mil kms e assumindo-se como modo de transporte um carro médio a gasóleo), ao que se somam as emissões evitadas pela realização de reuniões digitais, que evitaram que a equipa da Dignitude percorresse em 2023 mais de 40.000 kms.

HN – Além dos benefícios económicos e ambientais já mencionados, quais são os impactos sociais e na qualidade de vida dos beneficiários que o estudo identificou?

MJT – O Programa abem dá acesso a medicamentos a pessoas em situação de pobreza. De acordo com a avaliação de impacto social o Programa abem gera mudanças positivas substanciais para uma população que de outra forma não teria acesso às melhorias alcançadas.

Os principais impactos do Programa abem nos beneficiários são: Melhoria da condição de saúde dos beneficiários pelo cumprimento da terapêutica; Melhoria da qualidade de vida dos beneficiários ao evitar o corte noutras despesas essenciais; A acessibilidade aos medicamentos é um fator essencial para o aumento do sentimento de inclusão dos beneficiários.

Entrevista: Miguel Múrias Mauritti

Aceda a mais conteúdos da revista #25 aqui

 

 

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