As terapias biológicas, que têm revolucionado o tratamento de doenças até então incuráveis, são obtidas por processos biotecnológicos que utilizam organismos vivos. No evento, João Gonçalves, professor e investigador da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, será o orador principal e sublinhará a importância da medicina personalizada, que permite adaptar tratamentos ao perfil genético e molecular dos doentes.
“Os doentes devem estar bem informados sobre as terapêuticas biológicas para que possam tomar decisões conscientes e participativas sobre o seu tratamento. É importante que saibam que estamos a falar de medicamentos que atuam de forma altamente específica em alvos moleculares ou celulares da doença. Devem compreender os benefícios esperados, que incluem o controlo eficaz de sintomas, a desaceleração da progressão da doença e, em alguns casos, remissão ou cura. Contudo, precisam de estar cientes dos riscos, como reações adversas, maior suscetibilidade a infeções ou possíveis respostas imunológicas indesejadas, como o desenvolvimento de resistência ao medicamento”, considera João Gonçalves.
Ainda segundo João Gonçalves: “Embora as terapias biológicas tenham custos iniciais mais elevados, podem reduzir complicações e internamentos a longo prazo, diminuindo os custos totais do tratamento. No entanto, enfrentam desafios como produção complexa, necessidade de armazenamento especial e o desenvolvimento de resistência por parte de alguns doentes. Ainda assim, avanços em biotecnologia, como o desenvolvimento de biossimilares e novas plataformas (por exemplo, microneedles ou RNA mensageiro), prometem ampliar o acesso e a eficiência destes tratamentos”.
Apesar da reconhecida mais-valia terapêutica que aportam, após a aprovação do seu financiamento pelo INFARMED e respetiva inclusão no formulário hospitalar, a maioria das terapêuticas biológicas passa ainda por um processo prévio de avaliação e aprovação internos pelas Comissões de Farmácia e Terapêutica (CFT) de cada hospital.
Este processo pode variar entre unidades hospitalares, em termos de tempos de resposta/aprovação de utilização, o que pode gerar iniquidades nas condições de acesso a estes medicamentos a nível nacional.
Por outro lado, o Governo publicou recentemente uma portaria que determina que doentes com patologias tais como espondiloartrite axial ― espondilite anquilosante e espondiloartrite axial não radiográfica ―, artrite psoriática, artrite idiopática juvenil poliarticular e psoríase em placas, bem como os doentes com doença de Crohn ou colite ulcerosa, beneficiam de um regime excecional de comparticipação, podendo ser prescritos os medicamentos previstos para estas patologias em qualquer consulta especializada no diagnóstico e tratamento neste âmbito, dentro e fora dos estabelecimentos hospitalares do SNS.
Para Jaime Melancia, presidente da Plataforma Saúde em Diálogo, esta é uma medida que “traz mais justiça a estes doentes, mas é preciso fazer mais”.
“Ainda há doenças que não beneficiam deste regime, como é o caso da dermatite atópica ou do Lúpus Eritematoso Sistémico. Além disso, cada Comissão de Farmácia e Terapêutica funciona de forma independente, sem diretrizes padronizadas, o que introduz muita variabilidade no processo. Torna-se, por isso, essencial debater e desmistificar alguns preconceitos sobre o acesso as terapêuticas biológicas, de forma a torná-lo mais equitativo e uniforme para quem realmente precisa”, defende.
Apesar dos custos iniciais elevados, as terapias biológicas podem reduzir complicações e internamentos a longo prazo, potencialmente diminuindo os custos totais do tratamento. No entanto, o processo de avaliação e aprovação para a utilização destes medicamentos em hospitais pode variar, resultando em desigualdades no acesso a nível nacional.
A sessão contará com a presença de João Gonçalves, investigador e docente na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, como keynote-speaker, e com uma mesa-redonda que contará, com as intervenções de Ana Paróla, Farmacêutica Hospitalar na ULS Lisboa Ocidental, Luis Cunha Miranda, presidente do Colégio da Especialidade de Reumatologia da Ordem dos Médicos (a confirmar), Armando Alcobia, em representação da Comissão Nacional de Farmácia e Terapêutica, e ainda Jaime Melancia e Joana Camilo em representação das associações de pessoas que vivem com doença: PSOPortugal – Associação Portuguesa de Psoríase e ADERMAP – Associação Dermatite Atópica Portugal, respetivamente.
A participação no evento é aberta ao público, com inscrições a serem realizadas antecipadamente. A sessão promete ser uma oportunidade valiosa para discutir os desafios e oportunidades no acesso a tratamentos inovadores, com o objetivo de tornar o acesso a terapias biológicas mais equitativo para todos os doentes que delas necessitam.
as inscrições ser feitas aqui.
NR/PR/HN
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