As úlceras de pressão são lesões localizadas na pele e/ou tecido subjacente que ocorre devido à compressão prolongada ou à combinação de pressão com forças de cisalhamento. Essa compressão interfere na perfusão capilar, levando à isquemia tecidual, morte celular e necrose. São mais comuns em regiões de proeminências ósseas, particularmente em pacientes acamados, com mobilidade reduzida ou portadores de doenças crónicas.
A prevalência das úlceras de pressão varia amplamente, sendo observada em 3% a 23% dos pacientes hospitalizados. Estes índices estão associados a maiores taxas de complicações, como infeções sistémicas, maior tempo de hospitalização e mortalidade, além de um impacto económico significativo nos sistemas de saúde.
As regiões mais comumente afetadas incluem áreas de maior pressão sobre proeminências ósseas nomeadamente: região sagrada, coccígea, isquiática, trocantérica, maleolar, occipital, escapular e do calcâneo.
Existem fatores predisponentes extrínsecos e intrínsecos que habitualmente se conjugam e conduzem ao aparecimento deste tipo de lesão cutânea. Os fatores intrínsecos mais comuns são a idade, condição física e comorbilidades (insuficiência vasomotora, pressão arterial baixa, imobilidade, diabetes, doença renal crónica, desnutrição) e os fatores extrínsecos são pressão, fricção, forças de deslizamento, superfícies de apoio, medicação e humidade.
A prevenção é fundamental e baseia-se em estratégias multifatoriais:
. Alívio da pressão, com mudanças posturais regulares (a cada 2 horas) e uso de dispositivos de redistribuição, como colchões pneumáticos e almofadas viscoelásticas;
. Avaliação do risco, utilizando escalas padronizadas, como a Escala de Braden, para identificar precocemente pacientes em risco;
. Manutenção da integridade cutânea, com limpeza e hidratação da pele, evitando humidade excessiva ou desidratação – podendo ser utilizada uma pomada barreira para promover a hidratação e a integridade da barreira cutânea.
. Nutrição adequada, incluindo suplementação proteica e vitamínica para otimizar a cicatrização tecidual;
. Educação de equipas de saúde e cuidadores, promovendo práticas baseadas em evidência científica;
O tratamento das úlceras de pressão é estruturado de acordo com o estadio da lesão, conforme a classificação internacional:
. Estadio 1 (pele intacta):
Alívio da pressão e aplicação de pomadas barreiras protetoras para reduzir atrito e promover um ambiente húmido adequado à regeneração. A hidratação é fundamental para restaurar a barreira lipídica e diminuir a perda de água transepidérmica. Nesse sentido, podem ser utilizados produtos que contenham ingredientes emolientes (por ex.: vaselina, óleos), humectantes e que favoreçam a regeneração cutânea.
. Estadio 2 (perda parcial da derme):
Uso de pensos que promovam um ambiente húmido, como hidrogéis ou películas semipermeáveis.
. Estadio 3 e 4 (perda total de tecido e exposição de estruturas subjacentes):
Desbridamento: Necessário para remoção de tecidos necróticos, utilizando técnicas enzimáticas, autolíticas, mecânicas ou cirúrgicas;
Controlo bacteriano: Utilização de antimicrobianos tópicos, como prata ou iodo, podem ser indicados em casos de infeção local;
Pensos complexos: Espumas ou coberturas impregnadas com agentes cicatrizantes;
Terapia por pressão negativa (TPN): Indicada para estimular a formação de tecido de granulação e reduzir o exsudado;
Nutrição parenteral ou enteral em pacientes com comprometimento metabólico grave.
. Lesões profundas ou complexas:
Em casos refratários, pode ser necessário o uso de técnicas cirúrgicas, como retalhos cutâneos para cobertura das áreas expostas, visando otimizar a cicatrização e prevenir recidivas.
As úlceras de pressão representam um desafio clínico significativo, exigindo abordagem multidisciplinar e protocolos baseados em evidência. A aplicação rigorosa das diretrizes internacionais é essencial para melhorar os desfechos clínicos, reduzir complicações e otimizar a utilização dos recursos de saúde.
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