A última década testemunhou um crescente interesse no uso terapêutico de substâncias psicadélicas para o tratamento de perturbações psiquiátricas. Psilocibina, LSD e MDMA estão no centro das atenções de cientistas, profissionais de saúde mental e do público em geral, com dados iniciais de ensaios clínicos controlados a sugerirem benefícios potenciais no alívio de sintomas de várias condições, incluindo Perturbação Depressiva Major, Depressão Resistente ao Tratamento e Perturbação de Stress Pós-Traumático.
Numa análise abrangente publicada no American Journal of Psychiatry, especialistas de renomadas instituições, incluindo o Dr. Albino J. Oliveira-Maia da Fundação Champalimaud, destacam os avanços promissores nesta área emergente, mas também sublinham os desafios e questões críticas que ainda precisam ser abordados.
Um dos principais desafios metodológicos apontados é o “blinding” em estudos clínicos com psicadélicos. Devido aos efeitos perceptíveis destas substâncias, é frequentemente difícil manter a ocultação necessária para evitar que as expectativas dos participantes influenciem os resultados. Os investigadores sugerem o uso de “placebos ativos” e avaliadores independentes como possíveis soluções para este problema.
A segurança a longo prazo e o potencial de abuso são outras preocupações destacadas. Embora os psicadélicos sejam geralmente considerados como tendo baixo potencial de dependência, ainda há muito a aprender sobre os seus efeitos a longo prazo, incluindo riscos como o Transtorno Persistente de Percepção por Alucinógenos e possíveis impactos na saúde cardiovascular.
O papel da experiência psicadélica em si e da psicoterapia associada também é objeto de debate. Os investigadores questionam se a intensa experiência subjetiva, ou “viagem”, é necessária para alcançar benefícios terapêuticos e qual a importância da psicoterapia assistida no processo de tratamento.
À medida que a investigação avança, surgem questões práticas sobre como implementar estas terapias de forma segura, ética e acessível. A necessidade de ambientes controlados, profissionais especializados e supervisão regulamentar pode tornar os tratamentos caros e de acesso limitado.
Os autores enfatizam a necessidade de mais estudos em larga escala, com métodos rigorosos, para abordar questões cruciais como a identificação dos pacientes mais adequados para estas terapias, a sustentabilidade dos efeitos positivos ao longo do tempo e as possíveis interações com outros medicamentos psiquiátricos.
O Dr. Oliveira-Maia conclui: “Ao identificar quem beneficia – e porquê – podemos traçar um caminho mais claro para estes tratamentos, oferecendo opções seguras e eficazes para os doentes que mais precisam delas.”
PR/HN/MM
0 Comments