Nova técnica para sintetizar açúcares raros promete revolucionar indústria alimentar

21 de Janeiro 2025

Investigadores portugueses desenvolveram um método inovador e sustentável para produzir D-alose, um açúcar raro com benefícios para a saúde. A técnica, que combina processos enzimáticos e químicos, pode tornar a produção mais eficiente e económica

Imagem: André Taborda, Lígia Martins e Rita Ventura, investigadores do ITQB NOVA, integram a equipa responsável por este trabalho. Créditos: ITQB NOVA

 

Uma equipa de cientistas do Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier da Universidade Nova de Lisboa (ITQB NOVA) alcançou um avanço significativo na síntese de açúcares raros. O estudo, publicado na revista Green Chemistry, apresenta uma nova abordagem para produzir D-alose, um açúcar com propriedades benéficas para a saúde, mas atualmente difícil e dispendioso de obter.

O método desenvolvido utiliza uma enzima bacteriana melhorada através de “evolução dirigida”, um processo que acelera a seleção natural em laboratório. Os investigadores modificaram geneticamente a enzima para processar D-glucose de forma mais eficiente, resultando numa versão otimizada para a síntese de D-alose.

André Taborda, aluno de doutoramento e primeiro autor do artigo, explica que o processo começa com um derivado de glucose facilmente acessível. Após a reação enzimática, que não gera subprodutos, dois passos químicos simples completam a síntese. O método alcançou um impressionante rendimento de 81%, levando a equipa a submeter uma patente para a estratégia.

A Dra. Lígia Martins, líder do laboratório de Tecnologia Microbiana e Enzimática do ITQB NOVA, destaca o potencial desta descoberta: “A capacidade de produzir D-alose de forma eficiente e a custos mais baixos pode levar à sua incorporação numa vasta gama de produtos”. Ela acrescenta que esta abordagem abre possibilidades para a síntese de outros açúcares raros de maneira ecológica e económica.

O D-alose é conhecido por suas múltiplas propriedades benéficas, incluindo efeitos anticancerígenos, antioxidantes, anti-inflamatórios, anti-hipertensivos e imunossupressores. Além disso, pode ser usado como adoçante em alimentos e bebidas sem contribuir para a ingestão calórica.

Esta investigação foi realizada em colaboração com o laboratório de Química Biorgânica do ITQB NOVA, liderado pela Dra. Rita Ventura, que contribuiu com sua vasta experiência em síntese de açúcares.

O avanço alcançado pelos cientistas portugueses pode ter um impacto significativo na indústria alimentar e farmacêutica, tornando mais acessíveis os açúcares raros com benefícios para a saúde. A técnica desenvolvida não só promete reduzir os custos de produção, mas também oferece uma abordagem mais sustentável e amiga do ambiente para a síntese destes compostos valiosos.

À medida que a procura por alternativas mais saudáveis ao açúcar comum continua a crescer, esta descoberta pode abrir caminho para uma nova geração de produtos alimentares e suplementos nutricionais. O potencial para aplicações em medicamentos também é promissor, dadas as propriedades terapêuticas do D-alose e de outros açúcares raros.

PR/HN/MM

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