O envelhecimento da população é um fenómeno à escala mundial. Portugal, à semelhança dos restantes países, apresenta um aumento progressivo da população idosa em detrimento da população jovem. Com o envelhecimento populacional é previsível um número crescente de casos de demências e um aumento de doenças crónicas que levam à uma maior vulnerabilidade da pessoa idosa e consequente incapacidade no desempenho dos autocuidados. O aumento da população idosa é um fenómeno global que tem transformado a sociedade de várias maneiras. A crescente evolução da longevidade, põe questões ao nível da sua qualidade de vida, e também da qualidade dos cuidados de saúde que lhes são prestados, no que respeita ao diagnóstico e tratamento da depressão na pessoa idosa. Este aspeto é de crucial importância na promoção de um envelhecimento ativo, conceito que nos remete para a manutenção da motivação na vida laboral e social do idoso, mantendo a sua participação, dignidade e auto realização.
As causas de depressão no idoso configuram-se dentro de um conjunto amplo de componentes onde atuam fatores genéticos, eventos vitais, como luto, abandono e doenças incapacitantes, entre outros. Cabe ressaltar que a depressão no idoso frequentemente surge em um contexto de perda da qualidade de vida associada ao isolamento social e ao surgimento de doenças clínicas graves. Sentimentos de frustração perante os anseios de vida não realizados e a própria história da pessoa, marcada por perdas progressivas, do companheiro, dos laços afetivos e da capacidade de trabalho; bem como o abandono, o isolamento social, a aposentadoria que mina os recursos mínimos de sobrevivência, são fatores que comprometem a qualidade de vida e predispõem o idoso ao desenvolvimento de depressão (Pacheco, 2012).
A depressão na pessoa idosa por vezes nem sempre é diagnosticada. É fundamental que os profissionais de saúde em parceria com a família e/ou cuidador estejam atentos aos sinais de alerta. Deve-se, ainda, ter em conta que períodos prolongados de dor, comprometimento da nutrição, emagrecimento e fatores oriundos de doenças físicas que conduzem à diminuição da autonomia e perda de mobilidade física contribuem decisivamente para a instalação da depressão. O medo da progressão da doença física, da perda da dignidade e o medo de se transformar em sobrecarga aos familiares também são fenómenos psicológicos que acompanham o comprometimento da condição física (Forlenza, 2010).
A consciência da perda das capacidades leva por vezes a depressão e ao isolamento. Os idosos podem enfrentar solidão e isolamento, especialmente se não possuírem uma rede de apoio social adequada, como no caso de idosos que vivem em aldeias isoladas, onde na maioria das vezes a população é constituída apenas por pessoas idosas, porque os filhos da “terra” emigraram. São os amigos da mesma idade que já partiram, uma sensação que o fim estará próximo. Por outro lado, a perda da mobilidade, da força, do apetite, alterações nas pupilas degustativas e na deglutição, devido as mudanças fisiológicas e/ou patológicas levam a uma diminuição do aporte de nutrientes o que provoca um emagrecimento acentuado e perda de massa muscular. Uma inquietação persistente, apatia, falta de energia, alterações no sono e falta de “liberdade” imposta por vezes, pelos filhos, pelo medo de quedas ou de se perderem na rua, leva muitas vezes à tristeza e desmotivação perante a vida. Viver mais tempo não significa necessariamente viver com qualidade. É importante focar em uma vida saudável e ativa para garantir bem-estar na terceira idade. “Tenho 90 anos …os médicos dizem que é um privilégio chegar a essa idade…mas para mim não é privilégio nenhum, porque não posso fazer nada sozinho …nem posso andar …tenho medo de me desequilibrar e cair…” (J.S 2023).
De acordo com o regulamento das competências específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Reabilitação (EEER) da Ordem dos Enfermeiros (OE, 2011), os programas/planos de cuidados no âmbito da atuação com a pessoa, no sentido de desenvolver atividades que permitam maximizar as suas capacidades funcionais e assim permitir um melhor desempenho motor, cardíaco e respiratório, potenciando o rendimento e o desenvolvimento pessoal. Os programas de reabilitação devem envolver programas de atividades físicas para a manutenção da capacidade funcional, uma vez que, realizada regularmente, pode reduzir ou prevenir inúmeras incapacidades funcionais, associadas ao envelhecimento.
A atividade física contribui de diferentes maneiras para melhorar a condição clínica geral e a condição mental do idoso deprimido. Do ponto de vista biológico, a atividade física tem sido associada a vários fatores favoráveis, a uma melhor qualidade de vida no idoso, ganhos de força muscular e de massa óssea com melhor desempenho das articulações. Em relação à condição mental, a atividade física, sobretudo quando praticada em grupo, eleva a autoestima do idoso, contribui para a implementação das relações psicossociais e estimula as funções cognitivas.
Sentimentos contínuos de tristeza ou desânimo; Perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas; Sentimentos excessivos de culpa ou inutilidade; Insônia ou sonolência excessiva; Perda significativo de peso; Problemas para se concentrar ou tomar decisões; Esquecimentos frequentes, entre outros, são sinais que não devem passar despercebidos. Cabe aos profissionais de saúde estarem atentos aos sinais comportamentais e sintomas que possa apresentar seja no internamento, ambulatório ou comunidade. A depressão em idosos é uma realidade bem presente, que merece uma atenção especial por toda a equipe multidisciplinar de saúde. O suporte familiar é fundamental para a recuperação.
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