Investigação recente conduzida por John Charles Willman, do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), revelou uma descoberta surpreendente sobre os povos recolectores do Paleolítico Superior na Europa Central. Os pavlovianos, uma cultura que floresceu há mais de 25 mil anos, podem ter sido os pioneiros na prática da modificação corporal permanente, especificamente através do uso de piercings faciais chamados “labrets”.
O estudo, detalhado no Journal of Paleolithic Archaeology, baseia-se na análise meticulosa do desgaste dentário observado em molares, pré-molares e caninos de fósseis humanos pavlovianos. Os cientistas notaram padrões únicos de desgaste bucal que sugerem o uso prolongado de adornos que atravessavam a cavidade oral. Esta descoberta é uma das mais antigas evidências de modificação corporal conhecida no registo arqueológico.
Os dados recolhidos indicam que os dentes maxilares apresentavam desgaste mais significativo em comparação com os mandibulares, sendo os primeiros molares maxilares os mais afetados. Este desgaste não é uniforme em todos os indivíduos; em jovens, o desgaste tende a ser unilateral, enquanto em adultos mais velhos é bilateral, sugerindo um uso contínuo e prolongado dos labrets ao longo da vida. Esta consistência nos padrões de desgaste em diferentes faixas etárias reforça a ideia de que o uso de piercings faciais era uma prática cultural amplamente adotada entre os pavlovianos.
A investigação de Willman comparou estes padrões de desgaste com exemplos etno-históricos e bioarqueológicos contemporâneos para confirmar as suas observações. A importância desta descoberta vai além da simples curiosidade científica; ela oferece uma visão única sobre como as sociedades antigas poderiam expressar identidade e status social através da modificação do corpo. Se a hipótese se confirmar, este estudo não só expande o nosso conhecimento sobre os comportamentos sociais dos pavlovianos mas também reescreve a história da modificação corporal, sugerindo que tais práticas têm raízes muito mais profundas na história humana do que anteriormente se acreditava.
Esta descoberta tem implicações significativas para a compreensão da evolução cultural e social dos humanos durante o Paleolítico Superior. A prática de adornar o corpo com piercings, que hoje em dia pode ser vista em diversas culturas ao redor do mundo, pode ter tido início muito antes do que se pensava, possivelmente como uma forma de comunicação social ou de expressão pessoal. A continuação deste estudo pode revelar mais sobre como esses adornos eram usados, a sua simbolismo, e o impacto que tiveram nas sociedades paleolíticas.
PR/HN/MM
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