Confiança: o pilar da gestão de crises na Noruega

14 de Abril 2025

A confiança foi essencial na gestão da pandemia pela Noruega, segundo o professor Øyvind Ihlen. Estratégias como transparência, comunicação bidirecional e apelo à responsabilidade coletiva podem ser aplicadas em crises futuras, mas enfrentam desafios como polarização política e ceticismo.

A confiança na gestão das autoridades norueguesas durante a pandemia de COVID-19 foi um dos pilares fundamentais para o sucesso do país em enfrentar a crise, segundo investigações conduzidas por Øyvind Ihlen, professor da Universidade de Oslo. Durante os momentos mais críticos da pandemia, cerca de 80-90% da população confiava nas medidas implementadas pelo governo. No entanto, essa confiança exige mais do que informações e instruções; ela depende de um diálogo genuíno onde os cidadãos se sentem ouvidos e respeitados.

Em 2022, 77% dos noruegueses afirmaram confiar nas autoridades públicas, ficando atrás apenas dos suíços num relatório da OCDE. Contudo, desde então, a confiança tem diminuído. Ihlen e colegas identificaram cinco estratégias cruciais para construir e manter essa confiança em crises: demonstração de competência e fiabilidade, uso de retórica convidativa para fomentar diálogo com o público, transparência sobre incertezas, apelo à responsabilidade coletiva e clareza nas ações recomendadas.

A transparência destacou-se como um diferencial da Noruega em comparação com países vizinhos como Suécia e Dinamarca. As autoridades norueguesas foram abertas quanto às incertezas e admitiram que as recomendações poderiam mudar ao longo do tempo. Essa abordagem reforçou a integridade das medidas adotadas e a percepção de segurança pública.

Outro fator chave foi o apelo à responsabilidade coletiva através campanhas como a que envolveu “Henny”, uma criança que incentivava práticas preventivas simples como lavar as mãos. Esse tipo de comunicação clara ajudou a população a compreender o que fazer durante a crise.

Apesar do sucesso dessas estratégias durante a pandemia, Ihlen alerta para os desafios futuros em crises diferentes, como mudanças climáticas ou conflitos armados. Ele destaca que contextos distintos exigem adaptações nas abordagens comunicativas, mas reforça que a confiança continua sendo essencial para qualquer resposta eficaz.

Porém, o aumento da polarização política e do ceticismo em relação à ciência representa uma ameaça significativa à confiança em instituições e na democracia como um todo. Segundo Ihlen, é crucial que as autoridades mantenham transparência e priorizem os interesses públicos para enfrentar esses desafios futuros com sucesso.

https://www.hf.uio.no/imk/english/research/news-and-events/news/2025/how-norway-could-succeed-when-crisis-strikes.html

NR/HN/ALphagalileo

 

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Estudante do 2º ano do Curso de Especialização em Administração Hospitalar da ENSP NOVA; Vogal do Empreendedorismo e Parcerias da Associação de Estudantes da ENSP NOVA (AEENSP-NOVA); Mestre em Enfermagem Médico-cirúrgica; Enfermeiro especialista em Enfermagem Perioperatória na ULSEDV.

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