Entrar no local de trabalho e sentir, sem que ninguém lhe diga explicitamente, que aquele não é o melhor dos dias é uma realidade pela qual quase todos os profissionais de saúde já passaram. É algo subtil, quase invisível, uma sensação difícil de descrever, mas fácil de reconhecer: o ar parece mais pesado, as conversas são curtas, as respostas rápidas e frias. Sem que haja qualquer explicação formal, sabe-se instintivamente que o ambiente está tenso. Por outro lado, também há aqueles dias em que, mesmo com pressão e desafios, o ambiente é leve e a energia positiva faz acreditar que qualquer dificuldade será ultrapassada em equipa.
Neste artigo não falarei de fatores materiais como salários ou condições físicas. Falo de algo mais subtil, porém com um impacto determinante: o ambiente emocional e relacional que se vive diariamente dentro das equipas. Um ambiente que não aparece em relatórios anuais nem em reuniões formais, mas que, em silêncio, influencia decisões fundamentais como ficar ou sair.
Fala-se pouco, talvez demasiado pouco, sobre a cultura organizacional e sobre como pequenos gestos e atitudes quotidianas podem influenciar profundamente o bem-estar, compromisso e permanência dos profissionais. Um silêncio desconfortável durante uma passagem de turno, reuniões onde ninguém se sente confortável para intervir, olhares que nunca se cruzam – tudo isto gera microclimas que deterioram progressivamente o espírito de equipa e desgastam emocionalmente os profissionais.
O impacto destes ambientes negativos vai muito além do desconforto individual. Equipas continuamente expostas a ambientes tensos registam níveis elevados de absentismo, altas taxas de rotatividade e uma deterioração evidente nos indicadores assistenciais, comprometendo seriamente a qualidade dos serviços prestados. Estes fatores refletem-se diretamente na satisfação e segurança dos utentes e afetam negativamente a reputação das organizações.
Por outro lado, quando existe um esforço consciente em criar ambientes saudáveis, colaborativos e emocionalmente seguros, os benefícios são claros e imediatos. As equipas tornam-se mais unidas, o absentismo diminui, a rotatividade estabiliza-se e os indicadores de qualidade melhoram significativamente. Nestes ambientes positivos, os profissionais sentem-se motivados e comprometidos, têm mais energia para inovar e para enfrentar problemas coletivamente.
Para que esta mudança aconteça efetivamente, é essencial capacitar os gestores e líderes com competências que vão além das áreas técnicas e administrativas tradicionais. Dotá-los de ferramentas para reconhecer e gerir emoções, promover diálogos construtivos e criar ambientes seguros e saudáveis deve ser visto como um investimento prioritário e estratégico. Com estas competências, estarão melhor preparados para enfrentar desafios diários e contribuir ativamente para equipas mais fortes e instituições mais eficazes.
Porque, no final de contas, o verdadeiro sucesso organizacional não se mede apenas por números ou indicadores quantitativos, mas pela capacidade genuína de criar ambientes onde as pessoas se sintam verdadeiramente integradas, reconhecidas e valorizadas. Este não é um detalhe menor. É a base essencial para qualquer organização que pretenda crescer e ser sustentável no longo prazo.
No fim de tudo, são os ambientes que criamos hoje que determinam as equipas que teremos amanhã.
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