Um novo estudo internacional, liderado por investigadores da Universidade de Yale, aponta para uma ligação significativa entre a exposição precoce a dois poluentes ambientais comuns — partículas finas no ar (PM2.5) e luz artificial exterior durante a noite (O-ALAN) — e o aumento do risco de cancro da tiroide em crianças e jovens até aos 19 anos. A investigação, publicada na revista Environmental Health Perspectives, analisou dados de 736 casos de cancro papilar da tiroide diagnosticados antes dos 20 anos e de 36.800 controlos, todos nascidos na Califórnia entre 1982 e 2011.
Os investigadores recorreram a modelos geoespaciais e satélite para estimar, com base na morada de nascimento, a exposição individual a PM2.5 e luz artificial noturna durante o período perinatal — desde a gravidez até ao primeiro ano de vida. Os resultados mostram que, por cada aumento de 10 microgramas por metro cúbico de PM2.5, a probabilidade de desenvolver cancro da tiroide aumentou 7%. O risco foi especialmente elevado entre adolescentes (15-19 anos) e crianças hispânicas, que apresentaram um aumento de risco de 13%.
Relativamente à poluição luminosa, as crianças nascidas em áreas com maior exposição à luz artificial exterior apresentaram um risco 23 a 25% superior de desenvolver cancro da tiroide, comparativamente às que nasceram em zonas menos expostas. A associação foi mais marcada nos adolescentes, não tendo sido observada diferença significativa entre grupos étnicos, à exceção dos hispânicos.
A investigação destaca que tanto as partículas PM2.5 como a luz artificial noturna são considerados carcinogéneos ambientais, com capacidade de perturbar o sistema endócrino e a função tiroideia. As partículas finas, provenientes sobretudo do tráfego e da indústria, são suficientemente pequenas para entrar na corrente sanguínea e interferir com a sinalização hormonal. Por sua vez, a luz artificial à noite pode suprimir a produção de melatonina e alterar os ritmos circadianos, influenciando vias hormonais associadas ao desenvolvimento de cancro.
O estudo sublinha ainda preocupações de justiça ambiental, já que comunidades de cor e populações de baixos rendimentos estão mais expostas a estes poluentes, o que pode contribuir para a maior incidência de cancro da tiroide observada em crianças hispânicas. Os autores defendem a necessidade de políticas que reduzam a exposição à poluição atmosférica e luminosa, bem como mais investigação para aprofundar estes resultados e proteger a saúde das crianças.
NR/HN/ALphagalileo
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