28/05/2023
“Entre a idade dos ‘porquês’ e o tempo da revolta: Como lidar com a DII em crianças e jovens?” foi o tema que marcou o segundo webinar promovido pela APDI.
A sessão, que juntou especialistas e o testemunho de uma doente, teve como objetivo dar a conhecer as manifestações clínicas na fase pediátrica, a forma como se vive o diagnóstico nas crianças e nos jovens, a importância do envolvimento dos doentes no tratamento, o papel da família e do psicólogo.
O encontro contou com a participação de Susana Almeida, Gastrenterologista pediátrica do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra; Joana Pais, psicóloga clínica da APDI e Mariana Santulhão, jovem com DII.
Os primeiros sinais e sintomas, o diagnóstico e o estigma da doença foram alguns dos assuntos que marcaram o arranque do debate. A jovem contou que foi aos 14 anos que foi diagnosticada com Doença de Crohn, tendo sofrido “muito” antes de conhecer a sua condição clínica.
“Os meus sintomas eram extraintestinais. Tinha problemas articulares, oftalmológicos, dermatológicos e tinha um défice de crescimento. Houve uma fase de crise em que tinha muita diarreia, dores abdominais, vómitos e tive que ir às urgências, onde fiquei internada e recebi o diagnóstico”, explicou.
No entanto, reconheceu que foi após ter descoberto a causa dos seus problemas de saúde que passou a ter “qualidade de vida, graças à medicação”. Sob uma perspetiva otimista, Mariana garantiu ter sabido adaptar-se à doença sem nunca ter pensado em abandonar a medicação.
A importância do diagnóstico precoce e o envolvimento da criança no processo terapêutico foram os tópicos destacados por Susana Almeida. “Na DII é essencial fazer um diagnóstico precoce, sobretudo na sua variante de Crohn. Esta patologia tem muitas vezes sintomatologia que não é imediatamente reconhecida e isso faz com que infelizmente muitas crianças tenham vários anos de atraso no diagnóstico com perda de potencial crescimento (…) O nosso objetivo tem que ser tratar a criança, pensado no adulto que vem aí”.
“Na pediatria é muito importante falar para os pais, mas na adolescência não se pode falar com os pais… Tem que se falar, sobretudo, para o doente. Tem que se envolver desde cedo o jovem no processo. É preciso explicar a questão dos exames, o tempo de internamento e os objetivos da terapêutica”, acrescentou.
Na mesma linha de pensamento, Joana Pais fez questão de frisar a importância de explicar a doença aos doentes mais novos, pois “sabemos que a infância e a adolescência são as fases mais importantes do ser humano, funcionando como um ‘tubo de ensaio’ para as fases de vida subsequentes”
“Quando há um diagnóstico de DII é experienciado um estado de sofrimento e incerteza que tem repercussões a nível familiar, social e afetivo. Portanto, é essencial que a criança compreenda a doença”.
Na sessão, o “esquecimento propositado” da medicação foi um outro assunto trazido a debate. Segundo a Gastrenterologista pediátrica, há jovens que dizem ter “esquecido” a toma dos medicamentos, mas fazem-nos por se sentirem “muitas vezes cansados e diferentes dos outros”.
Sobre esta questão, Mariana garantiu não ter sido esse o seu caso, mas admitiu que durante muitos anos “calou” a doença por medo de ser considerada uma “vítima” por parte dos colegas da escola.
A psicóloga clínica sublinhou, assim, a importância de acabar com os tabus e de promover a “discussão aberta” da doença no ambiente escolar. “É importante que os professores sejam orientados para trabalhar nesta psico-educação dentro da turma para que a criança ou o adolescente com DII não seja discriminado e para que seja integrado.”
No webinar, foi ainda destacada a evolução que se tem operado na última década a nível da inovação terapêutica e da investigação na área das doenças inflamatórias do intestino. Hoje em dia os doentes contam com equipamentos mais avançados, exames menos invasivos e medicamentos altamente eficazes.
No encerramento, os especialistas alertaram para o facto de se estar a ser verificar um aumento significativo do número de casos complexos em idade pediátrica, tanto em Portugal, como a nível europeu.
Texto de Vaishaly Camões
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26/05/2023
“As crianças têm muito medo da anestesia, das agulhas, dos médicos. Queremos desmistificar o medo do desconhecido, utilizando estratégias já reconhecidas como úteis. É essa a função dos carros elétricos e de um livro do urso Giga, desconstruir a ideia de que a operação é um monstro, mas as crianças não precisam de ter medo porque estamos todos para ajudar”, disse hoje a anestesista Filipa Barbosa.
Contactada pela agência Lusa, a propósito de uma nota da Unidade Local de Saúde do Alto Minho (ULSAM) hoje enviada às redações, Filipa Barbosa explicou que “em vez de serem transportadas numa maca, as crianças vão conduzir os carros elétricos, sempre acompanhados pelos pais, ao bloco operatório e até à sala de operações”.
No bloco operatório, “o circuito do doente pediátrico prevê que um dos pais acompanhe a criança desde a sua chegada até à sala do bloco operatório e, depois da cirurgia, permaneça com a criança no recobro”.
Neste circuito “é importante sensibilizar a equipa multidisciplinar e os pais para a importância das estratégias de distração como meio para redução da ansiedade da criança”.
“Uma das principais preocupações das crianças é o medo da separação dos pais. São entregues a pessoas desconhecidas. Os carros elétricos são uma estratégia de distração desse momento de separação e [para] ajudá-los a ter uma experiência positiva quando vão entrar no bloco operatório. Vão acompanhados pelos pais, numa brincadeira e não como um momento quase solene. Se para um adulto é uma situação que causa nervosismo e ansiedade, para uma criança muito mais”, explicou Filipa Barbosa.
Após a cirurgia, “os pais podem estar com a criança na sala de recuperação da anestesia, outra estratégia de redução do medo e da ansiedade”.
Além dos carros elétricos, oferecidos ao hospital de Santa Luzia por uma empresa, as crianças admitidas para cirurgia vão receber ainda um livro, cuja personagem é um urso gigante. A história “Depois de uma operação o Giga tem uma missão” foi criada pela anestesista Joana Guimarães, autora dos desenhos e grafismos que ilustram o livro.
O Giga “é um urso gigante que foi operado e que conta a sua experiência aos meninos para que não tenham medo porque tudo correu muito bem”.
“O livro é uma preparação para a cirurgia. A história deve ser contada pelos pais para que quando a criança chegar ao bloco operatório já conheça a realidade do bloco. O principal motivo de ansiedade numa criança é o medo do desconhecido”, sublinhou Filipa Barbosa.
O lançamento do livro e a entrega dos dois carros elétricos acontecem no dia 01 de junho, no auditório da ULSAM, no hospital de Santa Luzia, em Viana do Castelo, para assinalar o Dia Mundial da Criança.
O projeto de melhoria da qualidade e segurança dos cuidados prestados ao doente pediátrico proposto para cirurgia no bloco operatório central da ULSAM começou em janeiro.
O projeto “Qualidade e Segurança em Anestesia Pediátrica” do bloco operatório central da ULSAM “visa associar o conhecimento científico e técnica na área de anestesia do doente pediátrico a estratégias que promovam uma melhoria da qualidade e da segurança nos cuidados em todas as fases perioperatório”.
A ULSAM é constituída por dois hospitais: o de Santa Luzia, em Viana do Castelo, e o Conde de Bertiandos, em Ponte de Lima.
Integra ainda 12 centros de saúde, uma unidade de saúde pública e duas de convalescença, e serve uma população residente de 231.488 habitantes nos 10 concelhos do distrito de Viana do Castelo e algumas populações vizinhas do distrito de Braga.
LUSA/HN
23/05/2023
Intitulado “Pas Gras” (‘não gorduroso’ em tradução literal), o projeto visa a “redução de riscos metabólicos, determinantes ambientais e comportamentais da obesidade em crianças, adolescentes e jovens adultos” e é coordenado por Paulo Oliveira, investigador e vice-presidente do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC/UC), explicou a Universidade de Coimbra em comunicado enviado à agência Lusa.
Financiado pelo Horizonte Europa – programa-quadro de investigação e inovação da União Europeia -, o “Pas Gras” pretende “desenvolver, ao longo de cinco anos, estratégias interdisciplinares de investigação e inovação capazes de mudar o paradigma da prevenção e do tratamento da obesidade, fornecendo soluções práticas para uma vida saudável na sociedade contemporânea”.
Ainda segundo a UC, a investigação “vai clarificar o papel do estilo de vida, saúde mental, fatores familiares, socioeconómicos e do ambiente no desenvolvimento da obesidade, e a sua interação com as características genéticas e metabólicas de cada indivíduo”.
Com base na análise integrada daqueles múltiplos parâmetros, a Universidade de Coimbra argumentou que será possível “elaborar uma avaliação personalizada e robusta do risco acrescido de sofrer de obesidade e complicações associadas, que incluem, por exemplo, problemas cardiovasculares”.
O estudo terá como públicos-alvo crianças entre os 03 e os 09 anos, adolescentes entre os 10 e os 18 anos e jovens adultos até aos 25 anos, bem como as respetivas famílias, com excesso de peso ou obesidade.
“Paralelamente, o projeto vai estudar mecanismos celulares e moleculares subjacentes ao efeito protetor de componentes da dieta mediterrânica e atividade física. Além disso, vai criar uma campanha internacional que visa o aumento da literacia em saúde e a sensibilização da sociedade para os riscos da obesidade”, frisou a UC.
Citado na nota, o investigador Paulo Oliveira acrescentou que o projeto “vai preencher lacunas críticas no diagnóstico e prognóstico da obesidade e proporcionar um conjunto de ferramentas inovadoras e medidas que possam contribuir para adotar e manter escolhas de estilo de vida” que a contrariem.
Em Portugal, para além da Universidade de Coimbra (representada pelo consórcio Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia, que integra o CNC-UC, o Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra e o Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra), são entidades parceiras a Universidade Nova de Lisboa, Associação de Ginástica do Centro, a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, o Instituto Pedro Nunes e o Instituto Politécnico de Viana do Castelo.
A nível internacional, participam no projeto o Conselho Nacional das Pesquisas e Universidade de Bari (Itália), três entidades alemãs (Mediagnost, Universidade de Martin Luther Halle-Wittenberge e a Universidade Técnica de Munique), a Sociedade Europeia de Investigação Clínica (Países Baixos), Fundação EURECAT (Espanha), o Instituto Nencki de Biologia Experimental (Polónia), o King’s College de Londres (Reino Unido), a Universidade de Uppsala (Suécia).
LUSA/HN
23/05/2023
O projeto “Estou na Linha” foi desenvolvido pela autarquia, do distrito de Leiria, em parceria com a Equipa de Saúde Escolar do Agrupamento de Centros de Saúde (Aces) Oeste Norte, face à importância de “ter a noção concreta da realidade local do concelho a nível da obesidade infantil, tendo em conta que os recentes números apontam para os 30% de crianças com excesso de peso em Portugal”, justificou o presidente da Câmara de Alcobaça, Hermínio Rodrigues (PSD).
Entre os meses de janeiro e abril foram rastreadas 1.986 crianças do ensino pré-escolar e do 1.º ciclo do ensino básico, “sendo os casos considerados de risco (com IMC – Índice de Massa Corporal superior a 95) encaminhados para o respetivo médico de família”, informou a Câmara.
Os resultados do estudo, que abrangeu 82% das crianças do jardim-de-infância e 85% dos inscritos no 1.º ciclo do ensino básico, hoje divulgados, revelam que “a grande maioria das crianças do pré-escolar (78%) e do 1.º ciclo (74%) apresenta níveis normais de IMC”.
Das 502 crianças do pré-escolar avaliadas (de um total de 613 inscritas) constatou-se que “4% apresenta o percentil de peso abaixo do recomendado, 78% apresenta dentro dos valores recomendados, 13% apresenta excesso de peso e 5% apresenta obesidade”, pode ler-se numa nota de imprensa da autarquia.
No que toca ao 1.º ciclo, foram avaliados 1.484 dos 1.755 alunos inscritos, verificando-se que “3% apresenta o percentil de peso abaixo do recomendado, 74% apresenta dentro dos valores recomendados, 16% apresenta excesso de peso e 6% apresenta obesidade”.
Com base nos resultados, “18 crianças do pré-escolar, com percentil IMC superior a 95, foram encaminhadas para o médico de família” e outras cinco “encontram-se devidamente acompanhadas pelo que não foram encaminhadas”, refere a mesma nota.
Quanto aos alunos do 1.º ciclo, 85 foram encaminhados para o médico de família e seis estavam também já a ser acompanhados.
“Estes resultados são motivadores e refletem, naturalmente, todo o trabalho de promoção de alimentação saudável que a Câmara Municipal de Alcobaça tem vindo a efetuar desde 2005”, afirmou o autarca, citado na nota em que exemplifica com a distribuição de fruta nas escolas (desde 2010) e a dinamização local do projeto “Heróis da Fruta”, implementado no concelho desde 2014.
Para o presidente, “num tempo em que a alimentação e sedentarismo contribuem seriamente para estilos de vida pouco saudáveis”, cabe “aos responsáveis políticos, também como aos pais, trabalhar para inverter esta tendência”.
A obesidade infantil é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) um dos mais sérios desafios de saúde pública, estimando-se que em todo o mundo cerca de 200 milhões de crianças em idade escolar apresentem excesso de peso, das quais 40 a 50 milhões são obesas.
17/05/2023
“É importante começar o mais cedo possível nesta promoção de hábitos de vida saudável. Daí que este projeto seja destinado a crianças do 1.º ciclo. (…) O que se pretende, com o apoio dos professores, em contexto de sala de aulas, é desenvolver uma série de atividades lúdico-pedagógicas para chamar à atenção para a importância dos hábitos de exposição solar saudáveis”, explicou Cristiana Fonseca do Departamento de Educação para a Saúde da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) – Núcleo Regional do Norte.
Os materiais lúdicos e pedagógicos apresentam o ‘Sr. Escaldão’ como personagem principal, enquanto vilão que todas as crianças querem derrotar, personificando todas as agressões a que sujeitam a pele.
Através destes conteúdos, explicou à Lusa Cristiana Fonseca, são transmitidas “as principais regras” a ter em conta para uma exposição solar saudável – janela horária, qualidade e quantidade – sem desvalorizar a importância do sol.
“Passamos a ideia da janela temporal (11:30 – 16.30) em que nos devemos proteger; a importância de estar atento ao índice ultravioleta para ajustar comportamentos; a importância de, mesmo naquelas janelas temporais, procurar a sombra como aliado; e, por fim, a questão do protetor solar, do vestuário, nomeadamente com proteção UV, dos óculos de sol e do uso de chapéu”, detalhou.
Segundo a LPCC, o cancro da pele é o cancro mais frequente a nível mundial entre as populações de pele predominantemente clara e a sua ocorrência tem aumentado de forma drástica ao longo das últimas décadas.
Este tipo de cancro pode ser detetado precocemente e o principal fator de risco é a exposição aos raios ultravioleta. Portugal regista anualmente cerca de 1.500 novos casos de melanoma maligno, número que, indica a LPCC, tem tendência a aumentar.
“O grande problema – e daí também o nome do projeto ser Sr. Escaldão – é que as pessoas assumem que o escaldão não tem grande mal, que é uma vez por outra, que passada a fase do moreno que estamos mais protegidos. Isso são mitos que temos de clarificar. A verdade é que a nossa pele tem memória e um escaldão na infância ou vários escaldões ao longo da vida, em efeito cumulativo, podem contribuir para desenvolver um cancro no futuro”, advogou Cristiana Fonseca.
Salientando que a não inclusão destes hábitos na infância, torna mais difícil a adoção de comportamentos adequados em idade adulta, aquela responsável refere que 90% dos cancros de pele são causados por exposição excessiva ao sol, sendo que este tipo de cancro pode demorar até 20 anos a desenvolver-se.
“O escaldão que apanhamos na infância, é esse escaldão que pode ser, às vezes, ponto inicial de um cancro que surge 20 anos mais tarde, já na idade adulta”, insiste.
Lançada no mês europeu do Melanoma, a 2.ª edição a campanha “As minhas aventuras contra o Sr. Escaldão” pretende duplicar o número de escolas participantes, depois do primeiro projeto- piloto, em 2022, que envolveu 111 escolas e um universo de 14.405 crianças.
“Diria que por um lado o objetivo é aumentar, duplicando as escolas envolvidas, mas por outro lado diversificar as escolas que se estão a inscrever”, indicou, acrescentando que essa diversificação, atendendo às inscrições que têm neste momento, já está a verificar-se, com “variadas escolas de todo o país a inscrever-se”.
Cristiana Fonseca admitiu ainda que o projeto possa vir a ser alargado a outros graus de ensino – jardim-de infância e 2.º ciclo – matéria que está a ser avaliada.
A campanha nacional – que conta com a chancela da Direção-Geral da Educação (DGE) – vai ser lançada esta quinta-feira, pelas 11:00, na Escola Básica de Matosinhos.
LUSA/HN