Healthnews (HN) – O modelo IOSy® é apresentado como a espinha dorsal do seu livro. Como é que esta ferramenta se distingue de outros métodos de internacionalização e que lacunas do mercado pretende colmatar?
Vivemos hoje numa sociedade em constante mudança e evolução, onde os mercados se transformam a um ritmo cada vez mais acelerado e imprevisível. Esta realidade impõe aos líderes de todo o mundo um desafio permanente de adaptação para responderem a exigências imediatas. No âmbito da minha experiência, constatei a existência de uma lacuna significativa no apoio prático disponível para os líderes nos processos de internacionalização. A ausência de orientação adequada contribui para a perceção generalizada de que a internacionalização é excessivamente arriscada, limitando o crescimento e a competitividade das organizações.
É precisamente neste contexto que o sistema IOSy® se revela de importância crítica – estruturado em torno dos elementos: Planear, Envolver, (Co)Relacionar, Executar, Comunicar e Controlar – o IOSy® apresenta-se como um guia prático e rigoroso para cada fase do processo de internacionalização. Sendo criado a partir de uma metodologia pragmática e clara, este sistema é suficientemente versátil para servir tanto a investigação académica como a formação prática nas organizações, reforçando o seu valor como recurso estratégico.
O IOSy® é um verdadeiro apelo à ação. Estimula os líderes a agir de forma decisiva, com base na confiança de um modelo validado, desenvolvendo a resiliência necessária para superar as complexidades e incertezas inerentes ao processo e numa realidade em constante mutação.
HN – Com uma carreira de 27 anos na área da saúde e farmacêutica, como é que a sua experiência em setores altamente regulados influenciou a construção das estratégias práticas partilhadas no livro?
O mercado regulado, sobretudo em setores de altíssima regulação como o farmacêutico, é visto por alguns como um desafio difícl de ser ultrapassado. Eu vejo-o como uma oportunidade de estímulo à criatividade ética e responsável. Durante esses anos, sempre procurei consolidar o destilado das minhas observações no mundo real em planos de ação práticos que permitissem o encadeamento do que reputo de “Boas práticas de internacionalização”, que depurei o tempo suficiente para verter neste livro.
HN – A ética e a responsabilidade são destacadas como pilares da internacionalização. Por que razão considera estes valores fundamentais para empresas que ambicionam expandir-se globalmente, mesmo em contextos competitivos?
Independentemente da minha opinião pessoal do quão binários são esses valores, academicamente falando, não há projetos sustentáveis sem ética e responsabilidade. A internacionalização não é uma exceção. Se algum projeto, desprovido de ética ou responsabilidade conseguir chegar a ser materializado, será sempre o que chamamos em internacionalização, um “spot success”. Nos projetos de internacionalização, temos algumas evidências que esses “spot success” são tipicamente menos prováveis que em outras áreas. Internacionalizar uma organização com os seus produtos ou serviços é tão complexo e desafiante que, fazê-lo sem ética e responsabilidade não só é errado, como é um risco demasiadamente alto para qualquer organização poder conviver no longo prazo.
HN – Questões como diferenças culturais ou riscos regulatórios são desafios frequentes. De que forma o modelo IOSy® ajuda os gestores a transformar estes obstáculos em oportunidades concretas?
As diferenças culturais e os riscos regulatórios são desafios comuns no processo de internacionalização de qualquer organização. O IOSy® apoia os líderes na transformação destes obstáculos em oportunidades, através de uma abordagem estruturada que promove o planeamento rigoroso, a comunicação eficaz e a construção de alianças estratégicas.
Com foco na inteligência cultural e na gestão proativa de riscos, o IOSy® permite antecipar barreiras e reforçar a confiança no processo de expansão internacional, promovendo uma análise rigorosa dos riscos regulatórios — sejam alterações inesperadas, sejam disrupções na cadeia de abastecimento. A criação de alianças estratégicas com entidades locais, não só proporciona acesso privilegiado a novos conhecimentos e práticas específicas do mercado, como também minimiza os riscos associados à falta de familiaridade inicial da equipa internacionalizada com o novo contexto. Embora não elimine a complexidade da internacionalização, o modelo IOSy® disponibiliza as ferramentas necessárias para gerir essa complexidade de forma eficaz, convertendo desafios em impulso para um crescimento sustentável e competitivo.
HN – O livro é descrito como útil tanto para iniciantes como para executivos experientes. Como conseguiu equilibrar a profundidade académica com acessibilidade para públicos tão distintos?
Eu tenho a profunda convicção que, por mais desafiante que seja o tópico a palestrar ou a escrever, a simplicidade estruturada sempre vence. Pedagogicamente, nanoestruturar um tema complexo em miligramas de palavras claras e facilmente deglutíveis é uma das formas mais eficazes de comunicação. Se o fizermos com conhecimento profundo, com preocupação pela encadeamento lógico, usando exemplos concretos e contarmos a história com rigor e estrutura, a nossa comunicação atinge o recetor em níveis mais altos que os esperados. Neste livro, tive essa preocupação de forma exaustiva, para propiciar uma experiência customizada tanto ao leitor académico, ao executivo experiente como ao leitor leigo que pretende começar a entender o processo de internacionalização.
HN – Após o lançamento de A Bíblia da Internacionalização, que mudanças concretas espera ver nas abordagens das empresas portuguesas e internacionais face à expansão global na próxima década?
Teria uma felicidade imensa se as organizações que já se internacionalizaram, medissem o seu desempenho de internacionalização usando este modelo e testassem por si próprias a melhoria comparada. Ao mesmo tempo, seria muito recompensador assistir, como estou convicto que acontecerá, um número crescente de organizações terem estatisticamente mais sucesso – e menos erros – no seu processo de internacionalização. Além disso, convém notar que os modelos que ensino não são apenas aplicáveis a organizações. São igualmente aplicáveis à carreira de internacionalização de um executivo.
Entrevista MMM
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