Uma investigação internacional liderada pela Universidade de Uppsala, na Suécia, em colaboração com equipas do Uganda, Zimbabué e Butão, concluiu que bebés a viver em contextos de grande adversidade, como refugiados ou em famílias afetadas por guerra, pobreza e depressão parental, demonstram competências sociais comparáveis às de crianças criadas em ambientes seguros. O estudo, um dos maiores já realizados com bebés utilizando medições de movimentos oculares, envolveu mais de 800 crianças entre os 100 e 300 participantes por país1.
Recorrendo à tecnologia de eye tracking, os investigadores filmaram os olhos dos bebés e analisaram, através de algoritmos, a direção do olhar para determinar a capacidade de seguir pistas sociais — isto é, perceber para onde outra pessoa olha e partilhar atenção sobre o mesmo objeto ou evento. Esta habilidade, fundamental para o desenvolvimento social, revelou-se estável mesmo em bebés expostos a situações de insegurança alimentar, pobreza extrema, experiências traumáticas familiares e depressão parental1.
Para contextualizar o ambiente de cada criança, os pais foram entrevistados sobre traumas, bem-estar psicológico e recursos disponíveis para a parentalidade. As definições de trauma e pobreza foram adaptadas a cada país, com base em escalas internacionalmente validadas e indicadores locais. Os questionários eram aplicados por assistentes de investigação locais, capazes de adaptar as perguntas às realidades culturais e sociais de cada contexto1.
Os resultados surpreenderam os investigadores, que partiam da premissa de que a primeira infância seria especialmente vulnerável às condições adversas. Apesar das dificuldades, os bebés demonstraram resiliência, mantendo a capacidade de seguir pistas sociais, uma competência essencial ao desenvolvimento humano. O estudo sugere que, mesmo em ambientes marcados por insegurança e trauma, existem oportunidades para o desenvolvimento e aprendizagem das crianças, contrariando a ideia de que a adversidade condena irremediavelmente o percurso social dos mais novos1.
A investigação contou com a participação de especialistas em psicologia do desenvolvimento, estudos de paz e conflito e design de jogos, refletindo a natureza multidisciplinar do projeto. O estudo reforça a importância de compreender as capacidades inatas que se manifestam precocemente na vida e destaca a necessidade de criar oportunidades para todas as crianças, independentemente do contexto em que crescem.
Referência: Artikel: Gredebäck, G. et al.; (2025). Infant Gaze Following Is Stable Across Markedly Different Cultures and Resilient to Family Adversities Associated With War and Climate Change. Psychological Science, 0(0). DOI: 10.1177/0956797651331042
NR/HN/ALphagalileo
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