A influência dos determinantes sociais da saúde, como rendimento, escolaridade e literacia em saúde, no agravamento e prognóstico das doenças reumáticas e musculoesqueléticas (RMD) foi evidenciada em novos estudos apresentados no congresso anual da European Alliance of Associations for Rheumatology (EULAR) em Barcelona, a 12 de junho de 2025. A investigação, liderada por Daniel Guimarães de Oliveira, incidiu sobre uma coorte populacional de 2.434 pessoas recentemente diagnosticadas com lúpus eritematoso sistémico (LES) na Suécia, analisando o impacto de fatores como rendimento, nível de educação, estado civil, capacidade laboral e estatuto migratório na progressão da doença e mortalidade.
Os resultados mostraram que 39% dos participantes desenvolveram danos orgânicos ao fim de uma mediana de 2,8 anos e 5% faleceram nesse período. Indivíduos com rendimentos anuais mais baixos e menos de nove anos de escolaridade apresentaram um risco 30 a 40% superior de desenvolver danos orgânicos, em comparação com pessoas com rendimentos mais elevados e mais de 12 anos de educação. O estado civil também foi determinante: divorciados ou viúvos tinham um risco significativamente maior de agravamento da doença do que os parceiros. Um historial de baixa médica ou incapacidade esteve associado a um aumento de mais de 40% no risco de danos orgânicos. Quanto à mortalidade, os grupos com menor rendimento e escolaridade registaram riscos mais de duas e uma vez e meia superiores, respetivamente, face aos grupos com melhores condições socioeconómicas. No entanto, o estatuto de imigrante não demonstrou impacto significativo nestes desfechos.
Segundo Daniel Guimarães de Oliveira, “o nosso estudo identifica determinantes sociais da saúde que podem ser usados para prever quem está em risco de piores resultados – e, sabendo isso, podemos aplicar intervenções direcionadas, como melhor acesso aos cuidados de saúde, apoio médico e não médico, promoção da literacia em saúde e criação de redes comunitárias, o que poderá contribuir para melhores resultados”.
Outro estudo, liderado por Mrinalini Dey e colegas do King’s College London, financiado pela FOREUM e coordenado por Elena Nikiphorou, investigou a relação entre literacia em saúde, determinantes sociais e resultados clínicos e não clínicos em pessoas com artrite inflamatória, através de um inquérito a 995 participantes do National Early Inflammatory Arthritis Audit, no Reino Unido. Os dados revelaram que baixa literacia em saúde, em praticamente todos os domínios avaliados, estava associada a maior atividade da doença, dor articular, ansiedade, depressão, maior número de articulações dolorosas e inchadas, bem como maior utilização de corticosteroides.
A investigação demonstrou ainda que pessoas com maior literacia em saúde tinham maior probabilidade de estar empregadas, enquanto a limitação nesta competência estava associada a níveis elevados de absentismo, presentismo e perda de produtividade laboral. A limitação da literacia em saúde em todos os domínios avaliados esteve correlacionada com maior comprometimento da atividade diária.
Estes resultados reforçam a importância de considerar os determinantes sociais e a literacia em saúde na gestão das doenças reumáticas, sublinhando a necessidade de estratégias de intervenção específicas para reduzir desigualdades e melhorar a equidade nos cuidados prestados.
Referência: Gomez A, et al. Associations Between Social Determinants of Health and Outcomes in Systemic Lupus Erythematosus: Evidence from a European Nationwide Population-Based Cohort. Presented at EULAR 2025; OP0200. Ann Rheum Dis 2025; DOI: 10.1136/annrheumdis-2025-eular.B2043.
NR/HN/ALphaGalileo
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