Café afeta mais jovens durante o sono e compromete recuperação mental

15 de Junho 2025

Um estudo da Université de Montréal revela que a cafeína, presente no café e outras bebidas, aumenta a actividade cerebral durante o sono, dificultando a recuperação física e cognitiva, especialmente em adultos jovens.

Investigadores da Université de Montréal publicaram, em Abril, um estudo inovador na revista Nature Communications Biology, onde demonstram que a cafeína — consumida não só no café, mas também em chá, chocolate, bebidas energéticas e refrigerantes — tem um impacto significativo sobre o cérebro durante o sono. Utilizando inteligência artificial e electroencefalografia (EEG), a equipa analisou o sono de 40 adultos saudáveis, comparando noites em que ingeriram cafeína com outras em que receberam um placebo.

Os resultados mostram que a cafeína aumenta a complexidade dos sinais cerebrais e potencia a chamada “criticidade” do cérebro durante o sono, um estado em que a actividade cerebral se encontra entre a ordem e o caos, favorecendo a flexibilidade e a capacidade de resposta. Contudo, este estado, benéfico durante o dia para a concentração, pode ser prejudicial à noite, impedindo o cérebro de relaxar e recuperar eficazmente.

A análise detalhada das ondas cerebrais revelou que a cafeína reduz as oscilações lentas (ondas theta e alfa), associadas ao sono profundo e restaurador, e estimula as ondas beta, típicas de estados de vigília e actividade mental. Este fenómeno foi especialmente notório durante a fase NREM, crucial para a consolidação da memória e recuperação cognitiva. Assim, mesmo durante o sono, o cérebro permanece num estado mais activo e menos reparador sob o efeito da cafeína.

O estudo destaca ainda que os efeitos da cafeína são mais pronunciados em adultos jovens (20-27 anos) do que em pessoas de meia-idade (41-58 anos), sobretudo durante o sono REM, a fase dos sonhos. Esta diferença deve-se à maior densidade de recetores de adenosina nos cérebros mais jovens, tornando-os mais sensíveis à acção da cafeína, que bloqueia estes recetores e retarda a sensação de fadiga.

Os investigadores sublinham a importância de compreender os efeitos da cafeína sobre a actividade cerebral em diferentes faixas etárias, dado o seu consumo generalizado. O estudo sugere que o consumo de cafeína antes de dormir pode comprometer a qualidade do sono e a recuperação mental, especialmente entre os mais jovens, e aponta para a necessidade de mais investigação para adaptar recomendações personalizadas de consumo de cafeína.

Bibliografia: “Caffeine induces age-dependent increases in brain complexity and criticality during sleep,” by Philipp Thölke et al., was published April 30, 2025 in Nature Communications Biology.

NR/HN/AlphaGalileo

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