Falta de comunicação compromete satisfação e adesão ao tratamento em pessoas com VIH

16 de Junho 2025

Metade das pessoas com VIH sente-se ignorada pelos profissionais de saúde, apesar da confiança nestes, segundo o estudo internacional Positive Perspectives 3, apresentado na conferência AIDSImpact, que destaca falhas na comunicação e decisão conjunta.

Metade das pessoas que vivem com VIH sente-se ignorada pelos profissionais de saúde, apesar de 80% dos inquiridos afirmarem confiar nestes, revela a análise provisória do Positive Perspectives 3 (PP3), um dos maiores inquéritos internacionais sobre a experiência de vida com o VIH. O estudo, promovido pela ViiV Healthcare e apresentado na 16.ª Conferência AIDSImpact, em Casablanca, envolveu 698 participantes de 16 países e destaca que 39,7% dos doentes não tomam decisões conjuntas com o médico sobre o seu regime antirretroviral (TARV).

Os dados mostram que a satisfação com o tratamento está associada a melhores resultados de saúde física, mental e sexual, bem como a uma menor probabilidade de omissão intencional de doses. No entanto, muitos participantes expressaram preocupações quanto aos efeitos a longo prazo da terapêutica (53%), ao aumento de peso associado ao tratamento (48,6%) e à recordação indesejada do VIH devido à medicação diária (43,2%).

Apesar de 93,7% dos inquiridos estarem cientes do conceito “Indetetável = Intransmissível” (I=I), apenas 58,1% acreditam realmente nesta evidência científica e cerca de um terço não consegue explicá-la a outros. A crença na I=I está associada a uma redução do estigma e a melhores indicadores psicossociais, mas a falta de compreensão plena deste conceito revela a necessidade de reforçar a comunicação e a educação junto das pessoas com VIH.

Nneka Nwokolo, Head of Patient Engagement da ViiV Healthcare, sublinha que “embora a confiança nos profissionais de saúde se mantenha elevada, muitas pessoas sentem-se ignoradas e excluídas das decisões sobre os seus próprios cuidados”, defendendo uma relação mais aberta e colaborativa entre doentes e equipas de saúde. David Hardy, Professor Clínico de Medicina Familiar na Escola de Medicina de Keck da Universidade do Sul da Califórnia, salienta a importância de “conversas que vão além da mera supressão viral e que capacitem as pessoas com VIH a partilharem, com confiança, as suas necessidades e preferências”.

O estudo Positive Perspectives 3, cocriado com representantes de comunidades globais, irá envolver mais de 3.000 participantes de 29 países, tornando-se um dos maiores inquéritos nesta área. Os resultados visam amplificar as vozes das pessoas com VIH e contribuir para a melhoria dos cuidados, promovendo uma abordagem mais centrada na pessoa e uma comunicação mais eficaz entre doentes e profissionais de saúde.

PR/HN

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