Pandemia torna a situação da comunidade cigana espanhola desesperada

25 de Maio 2020

Novas pesquisas, referem que a comunidade cigana espanhola regista fatores socioeconómicos e de saúde desproporcionados que a tornam extremamente vulnerável na atual pandemia.

A investigação – liderada pela antropóloga social Paloma Gay y Blasco, da Escola de Estudos Filosóficos, Antropológicos e Cinematográficos, e María Félix Rodríguez Camacho, aluna de doutoramento em Ciências da Saúde na Universidade de Alicante e responsável da área de Saúde da Federação Autonómica de Associações Ciganas da Comunidade Valenciana (FAGA) – alerta que a comunidade cigana, uma das minorias mais marginalizadas e pobres da Europa, com a saúde mais precária e a menor expetativa de vida, é provavelmente a que sofre o impacto do coronavírus de forma extrema.

Bandeira Romaní

A comunidade cigana de Espanha, assim como de outras partes da Europa, entrou na pandemia numa posição excecionalmente desvantajosa. Segundo este estudo, “mais de 80% destas pessoas vivem na pobreza e quase 50% têm uma renda mensal inferior a 310 euros. Esta comunidade também regista níveis mais altos de DPOC, obesidade e diabetes, e é mais provável que tenha sérios problemas de saúde que podem repercutir-se na sobrevivência à Covid-19”.

As condições deficientes da habitação nos centros urbanos ou em bairros marginais, a segregação em guetos construídos especialmente para eles, bem como a aglomeração, afetam a comunidade cigana de uma forma desproporcionada.

“Mais de 60% dos ciganos vivem no seio de famílias multigeracionais, com dois ou mais núcleos de famílias relacionadas que vivem juntas em pequenos apartamentos”, assinalam as autoras da investigação. “Estas condições fazem com que seja extremamente difícil evitar o contágio através do auto-isolamento”.

Além disso, acrescentam, quase 44% dos homens e 27% das mulheres de raça cigana obtêm os seus rendimentos através da venda ambulante, em mercados ao ar livre ou na rua. A quarentena obrigatória torna impossível às famílias ganharem a vida. Além disso, a maioria tem pouco acesso à limitada ajuda económica que o governo espanhol proporciona aos “trabalhadores independentes”.

A conjugação de todos estes fatores coloca grandes setores da comunidade cigana numa situação de grande vulnerabilidade. Segundo um comunicado da Fundação Secretariado Cigano, datado de 24 de março passado, aproximadamente 47.000 pessoas precisam de ajuda para adquirir alimentos básicos para sobreviver. Os dados qualitativos reunidos por Paloma Gay y Blasco e Maria Félix Rodríguez Camacho também revelam as condições desesperadas de muitas famílias ciganas.

As especialistas destacam o estereótipo negativo da comunidade cigana em alguns setores dos media. “São caracterizados como indivíduos desagregados na sociedade espanhola, apresentando-os injustamente como menos dispostos a aderir às políticas governamentais e ao confinamento obrigatório imposto para combater a pandemia”.

Organizações Não Governamentais (ONG) e algumas agências governamentais mobilizaram-se para oferecer ajuda. No entanto, as autoras do estudo alertam que, sem uma ação imediata, decisiva e inclusiva das instituições do Estado, locais e nacionais, essas iniciativas serão insuficientes. “É necessário adotar medidas para não continuar a considerar o sofrimento de tantas famílias ciganas como uma “desgraça aceite” mas como um fracasso intolerável”, afirmam.

 

 

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Novos diagnósticos de VIH aumentam quase 12% na UE/EEE em 2023

 A taxa de novos diagnósticos de pessoas infetadas pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) cresceu 11,8% de 2022 para 2023 na União Europeia/Espaço Económico Europeu, que inclui a Noruega, a Islândia e o Liechtenstein, indica um relatório divulgado hoje.

Idade da reforma sobe para 66 anos e nove meses em 2026

A idade da reforma deverá subir para os 66 anos e nove meses em 2026, um aumento de dois meses face ao valor que será praticado em 2025, segundo os cálculos com base nos dados provisórios divulgados hoje pelo INE.

Revolução no Diagnóstico e Tratamento da Apneia do Sono em Portugal

A Dra. Paula Gonçalves Pinto, da Unidade Local de Saúde de Santa Maria, concorreu à 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH), com um projeto inovador para o diagnóstico e tratamento da Síndrome de Apneia Hipopneia do Sono (SAHS). O projeto “Innobics-SAHS” visa revolucionar a abordagem atual, reduzindo significativamente as listas de espera e melhorando a eficiência do processo através da integração de cuidados de saúde primários e hospitalares, suportada por uma plataforma digital. Esta iniciativa promete não só melhorar a qualidade de vida dos doentes, mas também otimizar os recursos do sistema de saúde

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Cerimónia de Abertura da 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde: Inovação e Excelência no Setor da Saúde Português

A Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH) realizou a cerimónia de abertura da 17ª edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, destacando a importância da inovação e excelência no setor da saúde em Portugal. O evento contou com a participação de representantes de várias entidades de saúde nacionais e regionais, reafirmando o compromisso com a melhoria contínua dos cuidados de saúde no país

Crescer em contacto com animais reduz o risco de alergias

As crianças que crescem com animais de estimação ou em ambientes de criação de animais têm menos probabilidade de desenvolver alergias, devido ao contacto precoce com bactérias anaeróbias comuns nas mucosas do corpo humano.

MAIS LIDAS

Share This