Cirurgia atempada melhora tanto a taxa de sucesso da mesma como a taxa sobrevivência no caso de pacientes que sofram de hidrocefalia. Isto de acordo com um estudo da Universidade de Gotemburgo, na Suécia. Estes resultados justificam e contribuem para a pressão relativa à diminuição das listas de espera para cirurgias.
Hidrocefalia (conhecida tecnicamente por Hidrocefalia de Pressão Normal) é uma condição neurológica tratável que pode causar problemas de disfunção cognitiva ou demência, incontinência e na locomoção. É caraterizada pelo inchaço e acumulação de fluídos nas cavidades do cérebro.
Pessoas idosas estão particularmente sujeitas a esta condição e estima-se que cerca de 2% da população com mais de 70 anos sofra mesmo de hidrocefalia. Estudos mostram que apenas uma minoria dos afetados chega a ser diagnosticado e a receber tratamento. Uma das principais razões prende-se ao facto de esta ser uma doença pouco conhecida; outra pode ser o facto de os sintomas serem facilmente confundíveis com meros sinais de envelhecimento ou atribuídos a outros problemas de saúde.
O tratamento é um procedimento neurocirúrgico em que um fino tubo de plástico, conhecido como “shunt”, é inserido no cérebro para extrair o fluido cefalorraquidiano em excesso. Este é na verdade um tratamento altamente eficaz ao qual oito em cada 10 pacientes apresenta melhorias significativas e chega mesmo a recuperar a independência após a intervenção.
A ligação entre a mortalidade e o tempo de espera
Tal como descrito no trabalho da neurologista Kerstin Andrén, da Academia Sahlgrenska do hospital universitário com o mesmo nome, foram estudadas as implicações do tratamento na esperança média de vida dos pacientes com hidrocefalia depois da cirurgia com a utilização de um “shunt”.
Um dos dois estudos incluídos no seu trabalho abrangeu um grupo de 33 pacientes que, devido à insuficiente capacidade de resposta neurocirúrgica do Hospital Universitário Sahlgrenska, foram obrigados a esperar entre seis a 24 meses (mais de um ano em média) pela sua cirurgia com um “shunt”.
Em muitos casos a saúde dos pacientes foi-se deteriorando consideravelmente ao longo do período de espera e alguns chegaram mesmo a ficar dependentes de uma cadeira de rodas. Depois da cirurgia, estas pessoas mostraram menos melhorias a nível de locomoção, equilíbrio e capacidade mental que um outro grupo de 69 pacientes que realizaram a mesma cirurgia para a mesma condição, mas num espaço de 3 meses.
Cinco anos depois, 17 dos 33 (52%) pacientes que esperaram entre 6 a 24 meses pela cirurgia morreram. Estes valores representam uma taxa de mortalidade duas vezes superior à dos pacientes que não tiveram que esperar pelas suas cirurgias. Destes, apenas 16 dos 69 (23%) morreram.
“Esta é a primeira vez que fomos capazes de estudar o que acontece aos doentes com hidrocefalia quando o seu tratamento se atrasa. Esta informação é vital para que se de prioridade a estes doentes”, explica Kerstin Andrén.
Benefícios a longo prazo da cirurgia
No longo prazo, seis em cada 10 pacientes mantem um estado de saúde melhor depois da cirurgia. Isto é evidenciado por uma parte do estudo de Andrén que se focou no período pós-operatório de dois a seis anos de 979 pacientes de toda a Suécia. Mesmo os cerca de um quarto que sofreram de complicações durante a cirurgia, e que precisaram de ser novamente operados, mantiveram os efeitos benéficos do procedimento.
Enquanto grupo, os índices anímicos dos pacientes eram cerca de o dobro da população geral, e ainda mais alta nos casos em que a hidrocefalia se manifestava de forma mais intensa. Em adição, os pacientes que apresentaram melhores resultados foram dados como tendo um risco de morte não mais elevado que o da população em geral.
Os dados clínicos deste estudo foram recolhidos no Centro Sueco de Registos Hidrocefálicos (Swedish Hydrocephalus Quality Registry), no Registo Sueco de Causas de Morte (the Swedish Cause of Death Register) e no Hospital Universitário Sahlgrenska. O grupo de controlo pertencente ao resto da população foi selecionado pelos Estatísticos Suecos (SCB).
Artigo original Aqui
NR/HN/João Daniel Ruas Marques
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